Tebet e Marina podem não participar do governo

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Foto: Cristiano Mariz/O Globo

A etapa mais complexa da formação ministerial, que envolve a negociação com partidos que pretendem compor a base governista, ainda não foi resolvida pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Um dos impasses é com a senadora Simone Tebet (MDB-MS), terceira colocada na corrida presidencial e que deve se reunir hoje com Lula. O Valor apurou que ela poderá ocupar o Ministério do Meio Ambiente ou até mesmo o Planejamento – cujo primeiro ministro escolhido, o economista André Lara Resende, recusou. Ainda há tentativas, contudo, de fazê-lo mudar de ideia. Lula quer definir o restante da Esplanada até terça-feira.

Para assumir o Planejamento, Tebet precisaria contornar as resistências do futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao seu nome. Ele prefere alguém mais experiente na pasta com a qual atuará alinhado. No Meio Ambiente, a senadora se sente desconfortável com a situação de Marina Silva, de quem se aproximou na campanha e não gostaria de se indispor.

O PT tenta convencer a ex-ministra a assumir uma pasta de Autoridade Climática, que teria status de ministério e estaria ligada à presidência, mas Marina prefere o Meio Ambiente.

A negociação junto aos partidos que não estiveram na coligação de primeiro turno se intensificou ontem, imediatamente após Lula anunciar mais 16 ministros. O número foi menor, aliás, do que o presidente eleito planejava. Agora, pela projeção do próprio governo, ainda faltam ser nomeados outros 16 ministros.

O petista retirou dois nomes da lista de ontem porque, segundo auxiliares, viu a necessidade de uma “reserva de emergência” para abrigar novos aliados. Interlocutores petistas garantem, contudo, que ao menos dois escolhidos por Lula estão mantidos: a ex-atleta Ana Beatriz Moser no Esporte e o senador Carlos Fávaro (PSD-MT) na Agricultura.

O Esporte é disputado pelo PDT, que já recusou convite para assumir o Ministério da Previdência e avalia até mesmo ficar de fora da Esplanada. No caso de Fávaro, a indefinição leva em conta a possibilidade de seu colega de partido, senador Alexandre Silveira (MG), assumir a pasta de Minas e Energia.

As conversas com o PSD também envolvem o deputado Pedro Paulo (RJ), escolhido pelo partido para o Ministério do Turismo. Ligado ao prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, eles tiveram papel importante na campanha petista à presidência. De início, Lula avaliava entregar dois ministérios à sigla, mas não está descartado que o PSD assuma três pastas.

No caso de Tebet, o Valor apurou que ela só tomará uma decisão após se encontrar pessoalmente com Lula, o que não faz desde a eleição. Seu empenho no segundo turno não será desconsiderado, segundo pessoas próximas a Lula. O presidente eleito faz questão de tê-la na equipe. O MDB também tem expectativa de receber três ministérios. Lula se encontrou ontem com o presidente do MDB, Baleia Rossi, os senadores Renan Calheiros (AL) e Eduardo Braga (AM) e o deputado Isnaldo Bulhões (AL) para discutir as pastas. A bancada do partido não dá apoio unânime, mas as lideranças têm se mostrado fieis ao petista.

O ex-governador de Alagoas e senador eleito Renan Filho é o indicado pela bancada do Senado e pode assumir o Ministério dos Transportes. O nome da bancada da Câmara ainda é discutido, mas um dos cotados seria José Priante (PA) e a pasta seria a das Cidades. A princípio, Renan foi cotado para o Planejamento, depois para Cidades e Priante para Minas e Energia. O MDB, contudo, deixou claro que quer posições com “capacidade de entrega” de obras nos municípios e visibilidade política, tendo preferência por ministérios como Cidades, Transportes ou Integração Regional.

Lula também está discutindo espaço no governo para o União Brasil, com quem já teve conversas e com o Cidadania. Integrantes de partidos menores que estiveram juntos com o petista nas eleições, como PV, Rede, PSOL e Avante, ainda podem ser contemplados.

Ontem, ao anunciar ministros, Lula inclusive brincou com alguns ministeriáveis que estavam na plateia e não tiveram os nomes confirmados. Pediu, entre risos, que eles tivessem “esperança” porque haverá novo anúncio. A negociação com os partidos atrasou em função da votação da “PEC da transição”, considerada um primeiro teste do novo governo sobre a futura base. Mas interlocutores de Lula já o alertaram sobre a necessidade de acelerar definições para área como o Planejamento, ainda vazia a menos de 10 dias da posse.

Fora do PT, há críticas sobre o espaço que o partido terá e sobre a incompreensão acerca da importância de uma base consistente no Congresso, que passa por integrar outros partidos ao governo. O PDT, apesar de ter mantido a candidatura de Ciro Gomes à presidência no primeiro turno, aderiu a Lula no segundo e participou ativamente da transição. Membros da sigla não escondem o descontentamento com a forma como eles têm sido tratados. No PSB, ainda há expectativa de um espaço de destaque ao governador de Pernambuco, Paulo Câmara.

Valor Econômico