Assassinato em campanha de Tarcísio termina em pizza

Destaque, Todos os posts, Últimas notícias

Reprodução/GloboNews

A Polícia Civil de São Paulo concluiu a investigação sobre o tiroteio que deixou um homem morto durante agenda de campanha de Tarcísio de Freitas (Republicanos), na favela de Paraisópolis, em outubro do ano passado, sem identificar quem fazia a segurança do então candidato ao governo paulista.

O inquérito foi arquivado na semana passada, por determinação da Justiça, a pedido Ministério Público —o caso foi analisado pelo promotor de Justiça Fabio Tosta Horner.

Os disparos ocorreram durante visita de Tarcísio a um centro universitário, dentro da favela. Dois agentes federais estavam presentes na ocasião, mas ambos afirmaram terem ido ao evento como apoiadores do candidato bolsonarista e negaram fazer parte da equipe de segurança da campanha.

Além deles, quatro policiais militares, em trajes civis, também estavam no evento. Eles afirmaram pertencer ao serviço reservado da corporação e participavam do evento para levantamento de informações. Todos igualmente negaram participar da equipe da segurança do candidato.

Um dos agentes federais, Fabrício Cardoso de Paiva, trabalha na Abin (Agência Brasileira de Inteligência). Em depoimento, ele disse conhecer Tarcísio há cerca de 30 anos e que, por estar licenciado e ser admirador do trabalho do candidato, participava do evento de campanha.

“Não fazia parte da segurança e não recebia qualquer remuneração do comitê eleitoral”, segundo trecho do depoimento, ao qual a Folha teve acesso.

Paiva foi o agente que deu ordem para um cinegrafista da Jovem Pan apagar imagens sobre o contexto do tiroteio, em caso revelado pela Folha. Na época, conforme testemunhas, Paiva agia como segurança e andava armado, conforme admitiu à polícia.

A própria Abin, ao ser procurada, informou que tinha conhecimento que um de seus servidores estava de licença para tratar de interesses particulares e que acompanha Tarcísio.

“O trabalho atual deste servidor não é desempenhado em nome da Agência”, informou a agência em nota.

À Polícia Civil o agente alegou que resolveu ir ao evento porque estava em São Paulo. Questionado pelos policiais, ele afirmou não saber quem fazia parte da segurança do candidato. Confirmou ter mandado apagar as imagens, mas para evitar a exposição das pessoas que estavam no evento.

Uma dessas pessoas que aparecem no vídeo, conforme imagens anexadas ao inquérito, é o agente da Polícia Federal Danilo César Campetti, que embora afastado para concorrer a deputado estadual, estava com um distintivo da PF no peito, pendurado ao lado de um adesivo de campanha de Tarcísio.

Ele admitiu aos policiais que estava armado, mas disse não ter efetuado disparos. Assim como Paiva, ele alegou desconhecer quem fazia a segurança do candidato na ocasião.

A participação da equipe de segurança no evento foi narrada pela própria polícia desde o início das investigações.

O supervisor de policiamento da região de Paraisópolis, o sargento Paulo Fernando Leonti Costa, afirmou em depoimento que ficou sabendo da troca de tiros quando um colega, cabo Clóvis, do P2, recebeu ligação “da equipe de segurança do candidato informando sobre uma troca de tiros.”

O tenente Ronald Quintino Camacho, outro policial militar que participou da operação, também disse que foi até o local porque “a equipe de segurança do candidato solicitou apoio das equipes nas proximidades.”

No relatório final da Polícia Civil não há, porém, menção a esse acionamento feito por seguranças de Tarcísio. A equipe só é citada no contexto de não participação nos confrontos.

“Segundo ainda os policiais, em nenhum momento os indivíduos fizeram menção ao então candidato Tarcísio de Freitas ou a partido político, e não houve a participação no confronto de pessoas que faziam parte da organização do evento ou da equipe do candidato”, diz trecho do documento.

Procurado, o Governo de São Paulo não comentou o assuntou e informou que “a investigação do tiroteio ocorrido em Paraisópolis foi realizada pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e enviado ao Ministério Público, que pediu o arquivamento. Pedido que foi acolhido pelo Justiça”.

O diretor-presidente do Fórum Brasileira de Segurança, Renato Sérgio de Lima, disse que a identificação dos seguranças que participaram da ação de Tarcísio é algo obrigatório, até porque os relatos apontavam que eles tiveram participação no caso.

“Tinha gente da Abin mesmo? Estava de férias ou não estava? Quem eram os seguranças? Quem fazia escolta? Quem são? Todos deveriam estar identificados no inquérito. Porque, se começou por eles, o inquérito deveria ter esse contexto. Pelo jeito, arredondaram. Deixar aqui só quem está diretamente envolvido”, disse.

Ainda segundo ele, o Ministério Público poderia solicitar uma investigação sobre isso.

“Qual a situação prévia que fez com que os seguranças do Tarcísio desaparecessem do inquérito? Não dá para gente levantar nenhum tipo de hipótese, mas estranha. Causa estranhamento o fato de não ter essa identificação no inquérito.”

A investigação da polícia também foi concluída sem a localização da arma que, supostamente, estava em poder do homem que foi morto no confronto. O inquérito concluiu que o suspeito Felipe da Silva Lima foi morto por um tiro de fuzil disparado pelo tenente Ronald Quintino Camacho.

O caso foi registrado como homicídio decorrente de oposição a intervenção policial. Segundo a polícia, ao menos oito armas foram usadas para disparar contra os oficiais.

A análise feita no local, com ajuda da perícia e das câmeras corporais do PM, indicam que houve de fato uma troca de tiros entre criminosos e os policiais militares.

Uma das explicações para o sumiço da arma é a possibilidade de algum comparsa do homem morto tê-la levado na fuga. Ao lado do suspeito morto foram encontrados um carregador de pistola, coldre, telefone celular e relógio.

Em nota, a Abin afirmou não ter posicionamento sobre o assunto. A Polícia Federal foi procurada, mas não respondeu até a publicação deste texto.

Folha