Atos golpistas jogaram União Brasil no colo de Lula

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Foto: Reprodução

Integrantes do União Brasil entraram em um impasse sobre um manifesto para declarar independência em relação ao governo Lula, cuja publicação era dada como certa até poucos dias atrás. Pesaram na mudança de clima a necessidade de manter distância em relação ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) após os atos golpistas de 8 de janeiro e as articulações para ocupar cargos no governo federal. Com espaços já ocupados na Esplanada dos Ministérios, a legenda também negocia postos que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda mantém em aberto, entre eles, o comando da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).

Escanteados das articulações que levaram às indicações dos ministros das Comunicações, Juscelino Filho (União-MA), e do Turismo, Daniela Carneiro (União-RJ), o vice-presidente do União, Antonio Rueda, e o secretário-geral da legenda, ACM Neto, vinham participando da construção do documento que formalizaria a posição neutra da sigla em relação ao governo petista.

Interlocutores de ambos reconheceram que o manifesto perdeu força internamente especialmente após as invasões das sedes dos três Poderes por apoiadores do ex-presidente.

Segundo apurou o Valor, um grupo de parlamentares segue defendendo a importância de manter uma distância protocolar da gestão de Lula, mas outra parte, que até então era entusiasta da iniciativa, quer uma discrição maior sobre o assunto por temor de uma associação a Bolsonaro.

A repercussão negativa das invasões golpistas e depredações de prédios públicos em 8 de janeiro é considerada crucial para que o partido evite qualquer movimento que o aponte como fiador do futuro político do ex-presidente.

“Como uma parte do União veio do PSL, que acomodou a candidatura de Bolsonaro em 2018, a associação ao passado político dele é inevitável. Mas não podemos fazer nenhum gesto que pareça um alinhamento a quem defende e incentiva atos antidemocráticos”, disse um integrante da cúpula do União.

Além dos espaços já ocupados no primeiro escalão, o União deve ser contemplado com outros cargos no governo federal. A negociação para essas vagas, porém, ainda está em andamento e há a avaliação de que o manifesto poderia esvaziar as chances de o partido conseguir ocupar postos estratégicos.

O comando da Codevasf está na mira do líder do União na Câmara, Elmar Nascimento (BA), que teve sua indicação para o Ministério da Integração Nacional vetada por lideranças do PT. O atual presidente da Codevasf é Marcelo Andrade Moreira Pinto, indicado pelo parlamentar baiano em 2019.

Fontes relataram ao Valor que há grandes chances de Elmar manter as influências sobre o órgão para compensar o veto ao nome dele para uma pasta na Esplanada.

Além disso, prevalece o entendimento entre lideranças do PT de que, ao contemplar o líder do União, o partido de Lula poderá destravar os impasses que vem marcando as negociações para a distribuição das comissões permanentes da Câmara no biênio 2023-2024.

Com 59 deputados eleitos, o União é alvo de investidas do PL e do PT, que, apesar de apoiarem a recondução de Arthur Lira (PP-AL) ao comando da Casa, devem formar blocos paralelos na corrida pelos colegiados. Por ter uma bancada numerosa, a sigla de Luciano Bivar (União-PE) deve ser o fiel da balança nessa disputa entre os partidos de Bolsonaro e de Lula.

Ao enterrar o manifesto da independência e ao contemplar o União com novos postos no segundo escalão, o PT acredita que conseguirá amarrar o partido ao seu bloco e, consequentemente, revezar com a legenda o comando de comissões estratégicas, como a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara.

Valor Econômico