Bolsonarismo encolhe no Congresso após ataques

Destaque, Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Marcos Corrêa/PR

Os atentados terroristas na sede dos três poderes e o avanço das investigações contra os extremistas que aterrorizaram Brasília no último dia 8 devem produzir reflexos na disputa pela presidência do Senado.

A eleição está marcada para o dia 1º de fevereiro e será decisiva para a governabilidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que apoia o atual presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Tanto aliados quanto adversários de Pacheco avaliam que os extremistas atingiram em cheio as chances do candidato apoiado por Jair Bolsonaro, Rogério Marinho (PL-RN), conquistar o comando do Senado.

Outro consenso é o de que o pleito vai repetir a polarização da última campanha presidencial, opondo bolsonaristas e antibolsonaristas, mas desta vez num colégio eleitoral muito menor – de 81 senadores.

A repercussão dos atentados não poderia vir em pior hora para o PL, que já sofre com os bloqueios nas contas partidárias para pagar a multa de R$ 22,9 milhões imposta pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) após a legenda encampar a ofensiva bolsonarista contra as urnas eletrônicas – sem apresentar nenhuma prova de fraude.

“Pacheco sai fortalecido, sobretudo porque esses atentados que alvejaram o Congresso Nacional enfraqueceram não apenas o Bolsonaro, mas aqueles que têm um discurso bolsonarista, como é o caso de Rogério Marinho”, aponta o o cientista político Marco Antonio Teixeira, da FGV São Paulo.

Um aliado de Rogério Marinho concorda: “O atual presidente cresceu muito com isso tudo. Acho que a reeleição de Rodrigo Pacheco está consolidada.”

Na última segunda-feira, 16, Marinho se reuniu em Brasília com o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, e aliados do Senado para tratar da campanha. Ao fim da conversa, gravou vídeo em que defende um Senado que não seja “subalterno” nem “omisso”.

“O momento que o país atravessa é muito grave, é um momento de excepcionalidade, em que nós estamos sofrendo problemas ligados à questão da liberdade de expressão, à inviolabilidade do mandato dos parlamentares”, disse o candidato, repetindo o tradicional discurso que incita a militância bolsonarista.

Em suma: Marinho criticou nas entrelinhas a atuação do Judiciário contra bolsonaristas, alvos de bloqueios em redes sociais e outras medidas mais duras por parte do STF, mas não condenou o maior ataque recente à democracia brasileira.

Nas contas de aliados de Pacheco, o presidente do Senado deve reunir o apoio de ao menos 55 senadores para ser reconduzido ao cargo, com o endosso de parlamentares do PSD, União Brasil, MDB e do PT de Lula.

O cargo cobiçado por Marinho é estratégico na dinâmica do Legislativo. O dirigente da Casa também preside o Congresso Nacional e dispõe de uma série de prerrogativas que podem tanto ajudar a blindar o presidente da República, no caso de uma candidatura governista, ou atrapalhá-lo.

Entre elas estão o poder sobre sabatinas de indicados para o STF e embaixadas, a abertura de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs), a tramitação de medidas provisórias e até mesmo o impeachment de magistrados do Supremo – uma bandeira cara à extrema-direita já levada a cabo quando Jair Bolsonaro apresentou um pedido contra Alexandre de Moraes, rechaçado sumariamente por Pacheco.

Há dois anos, Pacheco venceu a disputa com 57 votos, ante 21 votos de sua principal adversária, a então senadora Simone Tebet (MDB-MS), hoje ministra do Planejamento.

Antes dos ataques, a expectativa de aliados de Marinho era a de que ele largaria na disputa com ao menos 35 votos – sendo contabilizados aí ao menos 7 dos 9 votos da região Sul, a mais bolsonarista do país.

Mas, com os recentes eventos, aliados mais realistas estimam que ele conseguiria contar seguramente com apenas 25 votos hoje, um número aquém dos 41 necessários para assumir o cargo.

Para aliados de Marinho, a chave da eleição está no Podemos, partido cuja bancada na nova legislatura será de seiss senadores. Uma das alternativas discutidas nos bastidores é Marinho se comprometer a entregar ao partido a presidência de comissões influentes do Senado, como a de Constituição e Justiça (CCJ) ou a de Assuntos Econômicos (CAE).

O PL formou a maior bancada da Casa, com 14 senadores, e Valdemar Costa Neto não abre mão, pelo menos por ora, de tentar conquistar o controle da Casa.

O plano A de Valdemar era lançar a candidatura de Tereza Cristina (PP-MS), mas ela não apenas se recusou a trocar de legenda, como avisou que não disputaria a presidência do Senado. “Pato novo só mergulha em água rasa”, disse a senadora eleita à coluna, em referência ao fato de ser estreante na Casa.

Conforme informou a coluna em dezembro, apesar de se manter recluso desde que foi derrotado nas urnas, Jair Bolsonaro acompanhou de perto as articulações de seu partido, o PL, de lançar candidatura própria ao Senado.

Marinho atuou como ministro do Desenvolvimento Regional do governo Bolsonaro de 2020 a 2022, período em que recebeu afagos públicos do ex-chefe.

“Ninguém viu um ministro do Desenvolvimento Regional melhor que Rogério Marinho, um homem que vive pelo Brasil todo, mas especial no Nordeste. Onde mais necessitam de obra, ele está presente”, elogiou Bolsonaro em outubro de 2020.

Antes de assumir a pasta, o político potiguar ganhou destaque no governo como secretário especial da Previdência e foi um dos mentores da reforma capitaneada pela equipe de Bolsonaro, um dos poucos trunfos da agenda liberal defendida na eleição de 2018.

Em nota, a assessoria de Rogério Marinho disse que a associação do senador eleito aos atos terroristas cometidos por bolsonaristas no 8 de janeiro são “tentativas de enfraquecimento” e parte de “um nítido esforço” para desqualificá-lo diante do “seu crescimento na disputa”.

“Não se pode confundir o espectro político da direita brasileira e o conservadorismo com alguns radicalizados, eles não representam a maioria”, afirma a nota.

A assessoria disse, ainda, que a candidatura de Marinho representa “a vontade de metade da população brasileira”, em referência à votação de Bolsonaro no segundo turno, na defesa da “responsabilidade fiscal e da retomada do equilíbrio democrático entre os Poderes”.

O Globo