Bolsonaro deu a senha para início do ataque

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Foto: Sergio Lima/AFP

Foram necessárias seis horas para que o ex-presidente Jair Bolsonaro se manifestasse a respeito dos ataques graves que resultaram na depredação do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal. De Orlando, nos Estados Unidos, onde mantém-se à margem de um movimento feito em seu nome, Bolsonaro fez o que se esperava: procurou se blindar e evitar que os atentados possam atingi-lo individualmente. Mas a manifestação feita por ele na noite de ontem nas redes sociais diz muito mais.

Na prática, o ex-presidente não condenou os ataques. Limitou-se a dizer atos como esses “fogem à regra”. Equiparou os acontecimentos de domingo a manifestações que ele atribui à “esquerda”. Disse que ele próprio sempre agiu dentro “das quatro linhas da Constituição”. E ainda se queixou do que descreve como “acusações sem provas” feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

É um jogo retórico. Bolsonaro se distancia dos crimes cometidos, sem desautorizar expressamente quem invadiu e depredou a capital federal. É uma receita que vem sendo utilizada há tempos pelo ex-presidente. E que até hoje lhe permitiu manter amplamente mobilizada sua base mais fiel e mais radical.

A manifestação de Bolsonaro, mais uma vez, menospreza as instituições brasileiras. As primeiras respostas vieram fortes, como não poderia ser diferente. E serão intensificadas, com uma já desenhada união de forças entre Executivo, Legislativo e Judiciário. Com direito a intervenção federal no Distrito Federal, ordem de afastamento do governador Ibaneis Rocha e pedido da Advocacia-Geral da União para pela prisão do ex-secretário de Segurança Pública Anderson Torres. Isso em apenas poucas horas.

Na manhã desta segunda-feira, Lula tem reunião marcada com a presidente do Supremo, Rosa Weber. O presidente também convocou uma reunião com governadores para o fim da tarde. A promessa é de uma ação rigorosa, para identificar e punir não apenas os participantes dos ataques, mas também os responsáveis por financiá-los.

Fato é que o ataque sem precedentes deste fim de semana não teve Lula como alvo. Não se trata de protesto contra o resultado da eleição. Como mostram as postagens feitas há dias nas redes bolsonaristas e reproduzidas pelo portal G1, foi um ataque calculado à democracia. Um ataque que demandou articulação e financiamento extensos. A ordem era “tomar Brasília”. E o movimento só deu certo porque teve apoio de seus líderes, além de conivência e omissão de quem tinha a responsabilidade de proteger a capital federal.

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