Bolsonaro vira “Capitão Fujão” e perde apoio

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Foto: Alexandre Cassiano/O Globo

Partido de Jair Bolsonaro, o PL já traçou planos para quando o ex-ocupante do Palácio do Planalto retornar ao Brasil, o que deve ocorrer até o início de fevereiro, antes do carnaval, de acordo com integrantes da legenda ouvidos pela equipe da coluna.

Enquanto Bolsonaro passa uma temporada em um condomínio de luxo na Flórida, seus aliados no Brasil já definiram que a principal missão é recuperar o capital político do ex-mandatário.

Parlamentares avaliam que pegou muito mal para a imagem de Bolsonaro viajar para fora do país no apagar das luzes do seu mandato, enquanto centenas de apoiadores mantinham acampamentos na frente de quartéis de cidades brasileiras, enfrentando chuvas.

Conforme informou a colunista Bela Megale, o comportamento de Bolsonaro lhe rendeu o apelido de “capitão fujão” entre membros de partidos da própria base.

Para aliados, Bolsonaro não apenas abandonou sua estridente militância e submergiu nas redes sociais, como saiu do país sem dar uma mensagem de conforto e alento para simpatizantes que ainda não aceitam a derrota no voto popular nas últimas eleições.

“Ele não falou tudo o que se esperava dele”, resumiu um aliado. Em sua última live como presidente, Bolsonaro chorou, condenou atos terroristas e falou sobre o governo Lula.

Coube ao presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, transmitir uma mensagem nesse sentido, em vídeo divulgado pela própria legenda – apesar de ser visto com desconfiança pelo bolsonarismo raiz.

Com o aguardado retorno de Bolsonaro ao Brasil, aliados querem que ele cumpra um roteiro que relembre seus tempos áureos de popularidade, arrastando multidões para eventos e ganhando recepções acaloradas em aeroportos.

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Segundo interlocutores, Bolsonaro já melhorou de humor e demonstrou disposição de voltar para o ringue político, mas a dúvida é saber como vai reagir essa parcela de bolsonaristas que se sentiram “traídos” pela postura do ex-chefe do Executivo de arrumar as malas para os EUA.

Os planos do PL preveem que o ex-presidente da República inicie ainda neste semestre um tour de viagens Brasil afora, a começar pelo Sudeste, região que os bolsonaristas consideram que foi fundamental para a sua derrota nas eleições.

Valdemar conta com Bolsonaro e as verbas turbinadas do Fundo Partidário para conseguir alcançar a meta de eleger 1,5 mil prefeitos nas eleições municipais em 2024 – atualmente, a legenda controla 352 prefeituras, sendo apenas uma capital, Maceió – cujo prefeito não se elegeu pelo partido.

Os números, no entanto, são considerados otimistas demais entre aliados mais realistas, que preveem um crescimento menor, mas ainda expressivo – 1 mil prefeituras, o que significaria triplicar o número atual.

A atenção especial pelo Sudeste, que inclui o Rio, berço do bolsonarismo, se deve à constatação de integrantes do PL de que os resultados em Minas Gerais e São Paulo sepultaram a reeleição do ex-presidente.

Em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral, Lula teve uma apertada vitória (50,2% a 49,8%), mantendo a tradição de que todos os presidentes eleitos desde a redemocratização também venceram entre os mineiros.

Já em São Paulo, o petista perdeu a disputa no Estado, mas conseguiu uma vantagem de cerca de meio milhão de votos na capital paulista, o que ajudou a garantir a sua apertada vitória.

Lula derrotou Bolsonaro por uma margem de apenas 2,1 milhões de votos.

Apesar dos planos ousados do PL, o ex-presidente voltará ao Brasil sem foro privilegiado e assombrado por inquéritos em andamento no Supremo Tribunal Federal (STF) e pela ameaça de Lula de levantar sigilos de 100 anos que haviam sido impostos pela gestão bolsonarista.

Bolsonaro corre, ainda, risco de ser declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), onde tramitam 15 ações que investigam sua fracassada campanha por abuso de poder político e econômico.

Resta saber se conseguirá recuperar o capital político perdido ou dobrará a aposta na narrativa belicosa que, até na avaliação de seus aliados mais próximos, custou-lhe a reeleição.

O Globo