Exército voltará a missões internacionais

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Foto: Exército Brasileiro/Reprodução

O general brasileiro Otávio Rodrigues de Miranda Filho, de 58 anos, foi nomeado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para comandar a Missão de Paz na República Democrática do Congo, a Monusco, a partir de março.

Pelos próximos dois anos, o general do Exército Brasileiro estará à frente de 16 mil homens e mulheres na Monusco, aquartelado em Goma, a cidade base da missão da ONU, no meio de um maciço vulcânico.

“O foco principal é a proteção de civis”, afirma Miranda Filho, em depoimento exclusivo ao Metrópoles, concedido na manhã do último domingo (8/1).

Entre os principais desafios da missão está garantir a tranquilidade na eleição presidencial no Congo, prevista para ocorrer em dezembro, e também combater o grupo rebelde Movimento 23 de Março, o M-23.

Nascido no Piauí, Miranda Filho iniciou a vida militar aos 17 anos, na Escola Preparatória de Cadetes do Exército em Campinas, no interior de São Paulo. Durante a carreira, fez diversos cursos – paraquedista, operações aeromóveis, operações na selva – e serviu em seis dos oito Comandos Militares de Área, com cinco anos só na Amazônia.

O general também foi ajudante de ordens do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de 2007 a 2010, e comandou brigada na Intervenção Federal no Rio de Janeiro em 2018. O currículo é extenso. No exterior, já participou de missão da ONU no Sudão e foi adido junto à Embaixada do Brasil na China. “Graças ao Exército, hoje conheço mais de 50 países, nos cinco continentes”, diz.

Miranda Filho substitui o general Marcos de Sá Affonso da Costa no comando militar da Monusco. Esta é a quinta vez consecutiva que um brasileiro é selecionado para chefiar a missão, iniciada no fim da década de 1990.

“É muito significativo. Ratifica, a nível internacional, o alto conceito de que gozam os militares do Exército Brasileiro”.

Confira o depoimento abaixo:

“A Monusco é a maior Missão de Paz da ONU e a única sob o capítulo 7 (imposição da paz). Após mais de 20 anos, ela se prepara para encerrar sua participação. Com um período tão longo, naturalmente a missão já enfrenta algum desgaste. Resgatar e manter a confiança da população, para continuar implementando o mandato, vai ser o primeiro desafio.

O segundo desafio será dar continuidade ao processo de desarmamento e desmobilização dos principais movimentos rebeldes. O objetivo prioritário é o M-23, que parece estar mais uma vez se fortalecendo após um largo período de baixa atividade.

O terceiro é gerar as melhores condições de segurança e dar todo o suporte necessário, de acordo com as diretrizes da ONU, para que as eleições previstas para dezembro de 2023 ocorram dentro de um clima de normalidade. Também é importante continuar melhorando as condições de segurança dos integrantes da própria missão.”

“Ser selecionado para uma missão tão complexa, que exige conhecimento político, diplomático, operacional, logístico, de inteligência e administrativo, significa uma enorme responsabilidade, mas também razão de grande satisfação profissional. Meu maior objetivo é ser capaz de contribuir significativamente para levar paz e mais segurança para a população daquele país irmão.

Terei sob meu comando seis oficiais generais estrangeiros, o que demonstra a importância e o tamanho do desafio. É razão de justificado orgulho para o nosso país ter, pela quinta vez, um oficial general brasileiro à frente de todo o segmento militar da Monusco.”

“A seleção para o cargo de Force Commander é feita com muito cuidado e durou mais de seis meses. Começa com o convite formal da ONU para que os países por ela selecionados indiquem seus candidatos.

Fui comunicado no dia 30 de maio de 20222, pelo então comandante do Exército, o general Freire Gomes, de que representaria o Exército na disputa. A Marinha do Brasil também indicou um Vice-almirante fuzileiro naval. Após análise dos currículos, foram escolhidos os dois oficiais brasileiros e dois de Bangladesh, que atualmente é o maior contribuinte de tropas para a ONU, para entrevista.

O painel foi conduzido pelo Subsecretário para Missões de Paz, Sr. (Jean-Pierre) Lacroix, o Conselheiro Militar, general (Birame) Diop e a Representante-especial da Monusco, senhora (Bintou) Keita. A banca indica ao Secretário-geral o candidato por eles considerado mais qualificado.”

“O general Affonso da Costa (atual comandante da Monusco) e eu somos grandes amigos. Desde a minha indicação pelo comandante do Exército estivemos em contato, por telefone e videoconferência. O general me atualizou detalhadamente sobre a atual conjuntura da República Democrática do Congo, com foco nas questões militares. Há possibilidade de eu ir a Goma, antes de assumir oficialmente, para aproveitar a presença e a experiência do comandante que encerra o seu período.”

“O Exército Brasileiro é a instituição mais democrática que eu conheço. Ela não considera a cor da sua pele, condição social ou religião. Ela considera o seu desempenho e o seu comprometimento. Nela, a ascensão hierárquica se dá exclusivamente pelo mérito. Quando olho para trás e vejo todas as oportunidades que o meu Exército e o meu país proporcionaram a mim e à minha família, o sentimento que me toma é o de gratidão. Espero estar, como meus antecessores, à altura deste empolgante desafio.”

Metrópoles