Fiesp pode ter “golpe de Estado”
Foto: Silvia Zamboni
O presidente da Fiesp, Josué Gomes da Silva, há um ano no cargo, enfrenta hoje uma tentativa de destituição e recebe para reunião, horas antes, o vice-presidente e ministro do recém recriado Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin.
O encontro será seguido de um almoço e ocorrerá poucas horas antes da assembleia dos associados que, no limite, poderá culminar na retirada do empresário do comando da entidade.
Se no fim do ano o clima entre os apoiadores de Josué era de mais pessimismo, o humor foi mudando ao longo da semana passada, momento em que muitos representantes de sindicatos começaram a conversar com parte dos associados rebelados contra sua gestão.
“O bom senso está prevalecendo. Estou otimista que Josué vai ficar”, disse uma fonte, que segue ao lado do presidente da Fiesp, que é dono da Coteminas. O presidente da Sindicato da Indústria do Plástico e conselheiro da Fiesp, José Ricardo Roriz Coelho, confirmou que muitos sindicatos de grande porte, que tinham assinado pela convocação da assembleia, perceberam o dano à imagem da entidade caso se colocassem contra um mandato de um presidente eleito.
“Se tem melhorias a serem feitas na gestão pode e deve ser discutido, mas não significa que tem que trocar o presidente. Cabe a nós empresários ajudarmos para que a Fiesp seja cada vez mais forte e influente nas grandes decisões brasileiras sem que isto signifique que ela tenha que estar ligada a algum partido politico”, disse ao Valor.
A assembleia foi chamada por Josué por meio de um edital publicado em dezembro, após uma série de pedidos partindo de 86 dos 112 sindicatos filiados. No centro da pauta da reunião está um pente fino sobre a gestão do empresário, que assumiu em janeiro de 2022 a cadeira, ocupada por quase duas décadas por Paulo Skaf.
Entre alguns dos filiados presentes no dia a dia da Fiesp, apesar da reunião com Alckmin nesta segunda-feira ser estritamente para se discutir os rumos da indústria paulista, a agenda foi entendida como uma demonstração de força de Josué, que chegou a ser convidado por Lula para ser ministro do Mdic, mas recusou o pedido.
Entre diversos itens, a pauta da assembleia cobra esclarecimentos de Josué sobre reuniões em Brasília que ele manteve como presidente da entidade e as razões para a assinatura do manifesto em prol da Democracia, em agosto do ano passado.
“O Josué dará todas as explicações pedidas”, disse uma das fontes consultadas pelo Valor. A mudança de opinião dos filiados estaria ocorrendo após um período de conversas com alguns dos sindicatos, disse uma fonte. Segundo ela, muitos dos grupos estavam “desavisados” e não teriam entendido que o propósito da assembleia é tirar Josué do cargo.
O entendimento do grupo que apoia o atual presidente é que nenhum dos itens da pauta pode efetivamente tirar Josué do cargo, tendo em vista o próprio estatuto da Fiesp. Segundo documento que o Valor teve acesso, a perda de mandato pode ocorrer em apenas cinco situações: malversação ou dilapidação do patrimônio social, grave violação do estatuto, abandono do cargo, aceitação de transferência (saída do Estado de São Paulo) ou conduta incompatível com a ética”. “Não existe fundamento jurídico para a saída dele”, disse uma das fontes. Chegou a ser cogitada a possibilidade de que o caso poderia ser judicializado por Josué, que tem no seu time de advogados o jurista Miguel Reale Jr.
Dentre os vice-presidentes da Fiesp que podem assumir, caso se confirme a saída de Josué, estão Rafael Cervone Netto, o nome mais próximo de Skaf, Dan Ioschpe e Marcelo Campos Ometto.