Gleisi Hoffmannn tem mais força que ministros

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Foto: Cristiano Mariz

Ao anunciar em dezembro que a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), estaria fora do governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que ela desempenharia um papel até “mais importante” do que o de um ministro. Apesar de não ocupar uma cadeira no Executivo, a comandante do partido participou do processo de escolha de titulares das pastas, atua na indicação a cargos de segundo escalão mesmo de personagens sem vínculo com o PT e, recentemente, debateu até a futura composição da diretoria da Petrobras.

O espaço que ocupa em torno de Lula, construído ao longo dos últimos anos, tem contribuído para ampliar a participação do PT no governo. Numa de suas últimas vitórias, Gleisi conseguiu emplacar o deputado Ênio Verri, que, como ela, é do PT do Paraná, na diretoria-geral de Itaipu, uma das usinas hidrelétricas com maior geração de energia do mundo.

Em um movimento que vai além das atribuições de um presidente de partido, foi Gleisi quem comunicou à então senadora Simone Tebet (MDB-MT) que a emedebista não ficaria com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, entregue ao petista Wellington Dias.

A deputada também atua para acomodar aliados no governo. De acordo com interlocutores do ministro das Cidades, Jader Filho (MDB), Gleisi ajudou recentemente a negociar a indicação de um nome do PSOL para a pasta. Ligado ao deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP), Guilherme Pereira, militante do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), conseguiu ser indicado para a Secretaria de Periferias, com a bênção da petista.

Até minutos antes do anúncio final dos ministros, Gleisi participou ativamente das articulações em torno do quinhão que o PSD e o União Brasil teriam. A atuação dela foi determinante para desbancar a indicação do deputado federal Elmar Nascimento (União-BA), líder da bancada, para o Ministério da Integração Nacional. Nascimento é ferrenho adversário político do PT na Bahia, e a pasta acabou sendo entregue ao ex-governador do Amapá Waldez Góes (PDT).

Aliados de Lula chegam a dizer que mantê-la fora do governo acabou saindo “mais caro”. Na avaliação deles, sem comandar uma área específica, ela tem exercido forte influência em variados setores. Hoje, a palavra da deputada tem uma espécie de peso dois em assuntos que vão da articulação política a indicações para estatais.

Embora tenha livre acesso a Lula há pelo menos duas décadas, Gleisi estreitou ainda mais sua relação com o presidente ao longo dos últimos seis anos, depois de assumir a presidência do PT, em 2017. No ano seguinte, Lula foi preso e, na condição de comandante do partido, ela foi uma das pessoas que mais se mantiveram próximas ao correligionário durante o período em que ele esteve encarcerado. Além disso, assumiu papel de destaque durante a campanha de 2022, costurando pessoalmente as alianças que levaram Lula ao Palácio do Planalto pela terceira vez.

Nesse contexto, Gleisi chegou à transição como uma das autoridades mais poderosas da equipe. A decisão de Lula de mantê-la oficialmente fora do Executivo surpreendeu petistas. Ainda assim, a influência dela extrapola os limites do PT.

Gleisi continua cuidando de perto da ocupação de aspaços considerados estratégicos para o PT. A diferença para outros presidentes de partido é que, em algumas ocasiões, as conversas se dão dentro do Palácio do Planalto. Há duas semanas, ela se reuniu com o novo presidente da Petrobras, o senador Jean Paul Prates (PT-RN), em uma sala no quarto andar da sede da Presidência, pavimento destinado aos ministros palacianos. Falaram sobre o futuro da companhia e indicação de diretores. Além deles, estavam presentes integrantes da bancada do PT do Rio.

Aliados da presidente do PT, por outro lado, classificam como “fogo amigo” o incômodo com o espaço que ela tem ocupado desde que Lula voltou ao Planalto. Segundo eles, Gleisi trata prioritariamente de questões ligadas ao PT e nunca atravessou o papel do ministro de Relações Institucionais, o também petista Alexandre Padilha, que cuida da relação com o Congresso.

O Globo