Investigação vê método e treinamento dos terroristas

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Foto: Folha

Uma megafaixa verde e amarela usada pelos extremistas que destruíram as sedes dos três Poderes pode parecer, à primeira vista, apenas um dos muitos símbolos levados à Esplanada dos Ministérios pelos supostos patriotas em 8 de janeiro. Para quem investiga o caso, porém, o artefato pode não ter sido escolhido aleatoriamente, mas sim com o objetivo de ser usado como uma espécie de escudo de proteção contra as balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo lançados contra os invasores pelas forças de segurança.

Segundo apurou o Valor, uma das linhas de investigação sobre os atentados é justamente descobrir se os apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) receberam algum tipo de treinamento para atuar no confronto direto com policiais.

Um dia depois do quebra-quebra em Brasília, a faixa empunhada pelos golpistas podia ser vista caída aos pés da rampa que dá acesso ao prédio principal do Supremo Tribunal Federal (STF).

Fontes que acompanham a apuração listam outras evidências que demonstrariam que pelo menos parte do grupo não fazia parte de um movimento espontâneo. Muitos chegaram à Esplanada trajando, além da camisa da seleção brasileira, luvas e máscaras.

A resistência de alguns extremistas às bombas de gás lacrimogêneo chamou a atenção até de policiais experientes. O cheiro forte faz com que as pessoas comecem a tossir e a lacrimejar. Não foi esse, no entanto, o relatos de agentes de segurança que estiveram em campo naquele dia.

Mesmo com as bombas lançadas a poucos metros dos invasores, eles seguiam em marcha, determinados a destruir o máximo possível.

Além disso, foram identificados entre os golpistas objetos como soco inglês – uma espécie de arma branca de metal, que encaixa nos dedos da mão – e estilingues, usados para quebrar vidraças de andares mais altos do Palácio do Planalto, Supremo e Congresso. Hastes de bandeiras, pedaços de paus e pedras também foram usados nos ataques aos prédios públicos.

A maneira como a invasão às sedes dos três Poderes aconteceu também levantou suspeitas. Os indícios apontam para uma estratégia coordenada para dividir as forças policiais e diminuir o poder de reação. O ataque começou pelo Congresso, mas outros dois grupos teriam seguido em direções opostas: um para o edifício do Executivo, outro para o do Judiciário.

Ao todo, 1.459 pessoas foram presas após os atentados. A maioria delas estava no acampamento montado em frente ao quartel general do Exército, em Brasília. Na terça-feira, o ministro Alexandre de Moraes começou a analisar os casos. De um grupo de 574 pessoas, liberou 220, por entender que não tiveram envolvimento direto na depredação do patrimônio público. Elas, no entanto, terão que usar tornozeleiras eletrônicas e continuarão respondendo em liberdade, especialmente pela tentativa de depor um governo legitimamente eleito (ver nesta página).

A expectativa é que a investigação consiga reunir provas para condenar cada pessoa individualmente pelos seus atos. Por exemplo, haverá uma pena diferente para quem arrancou o crucifixo do plenário do STF e para o responsável por apunhalar, sete vezes, o quadro do pintor Di Cavalcanti que ficava no Planalto.

Procurada, a Polícia Federal (PF) afirmou que não comenta investigações em andamento.

Valor Econômico