Lula comemora volta do Brasil ao Celac
(Foto: LUIS ROBAYO/AFP)
Lula fica no centro de foto oficial
Os representantes dos 33 Estados-membros da Celac tiraram a foto oficial de sua 7ª cúpula, que marcou o retorno brasileiro após o ex-presidente Jair Bolsonaro tirar o país da aliança em 2019. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou no centro, ao lado do anfitrião, o argentino Alberto Fernández, com quem teve agenda bilateral na segunda.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou seu discurso na cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), em Buenos Aires, para reforçar a importância da unidade regional, posicionamento do qual a política externa brasileira se distanciou sob o comando de Jair Bolsonaro. A sensação neste momento, disse o petista, “é de quem se reencontra consigo mesmo”, afirmando haver tanto que aproxima os 33 países da aliança que “nada deve nos separar”. Leia aqui a reportagem consolidada.
Lula encerrou citando o antropólogo Darcy Ribeiro, que teria completado 100 anos em 2022. Segundo o presidente, ele foi um “brasileiro extraordinário” que se dedicou a pensar a região quando uma comunidade latino-americana e caribenha era uma “miragem”:
— Tendo vivido o exílio, nos anos 1960 e 1970, ele foi dos primeiros a falar da nossa unidade na diversidade. Essa Pátria Grande, e a apontar a contribuição civilizatória muito particular que a nossa região tem a dar para o mundo. O Brasil volta a olhar para seu futuro com a certeza de que estaremos associados aos nossos vizinhos bilateralmente, no Mercosul, na Unasul e na Celac — disse ele, distanciando-se de Bolsonaro.
Ao encerrar, ele disse:
— É com esse sentimento de destino comum e de pertencimento que o Brasil regressa à Celac, com a sensação de quem se reencontra consigo mesmo.
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‘Nada deve nos separar, já que tudo nos aproxima’, diz Lula sobre passado regional
Segundo Lula, as experiências compartilhadas da região e de seu passado colonial devem servir para uma aproximação ainda maior:
— Nada deve nos separar, já que tudo nos aproxima. Nosso passado colonial. A presença intolerável da escravidão que marcou nossas sociedades profundamente desiguais. As tentações autoritárias que até hoje desafiam nossa democracia — disse Lula.
Ele continuou, falando da imensa riqueza cultural da América Latina e do Caribe:
— Mas também a imensa riqueza cultural dos nossos povos indígenas e da diáspora africana. A diversidade de raças, origens e credos. A história compartilhada de resistência e de luta por autonomia. Tudo isso nos faz sentir parte de algo maior e alimenta nossa busca por um futuro comum de paz, justiça social e de respeito na diversidade.
Há 3 horas
Lula: ‘Desenvolvimento deve caminhar ao lado de combate à desigualdade’
A estratégia de desenvolvimento regional, afirmou Lula, deve ser indissociável da redução da desigualdade “em suas diversas dimensões”. Segundo o presidente, são necessárias garantias de acesso à educação, saúde e trabalho e dos direitos de grupos minoritários.
— Para crescermos de maneira sustentável não podemos seguir ostentando índices inaceitáveis de pobreza e fome, nem tampouco conviver com a desigualdade e a violência de gênero que atingem metade de nossas populações. — disse Lula. — É preciso respeitar e proteger nossos povos originários, até hoje ameaçados e negligenciados. É preciso trabalhar para que a cor da pele deixe de definir o futuro de nossos jovens.
Na Celac, Lula defende aprofundamento de laços extrarregionais e construção de mundo multipolar
Segundo Lula, a região deve aprofundar seus laços com parceiros extrarregionais, como a “União Europeia, a China, a Índia, a Asean e, muito especialmente, a União Africana”. É necessário, disse ele, construir um mundo multipolar:
— Há uma clara contribuição a ser dada pela região para a construção de uma ordem mundial pacífica, baseada no diálogo, no reforço do multilateralismo e na construção coletiva da multipolaridade.
As “diversas crises globais”, disse o petista, não devem se traduzir em isolamento, mas o contrário:
— Salienta apenas que essa integração será feita em melhores termos se estivermos bem integrados em nossa região. Temos de unir forças em prol de melhor infraestrutura física e digital, da criação de cadeias de valor entre nossas indústrias e de mais investimentos em pesquisa.
Há 3 horas
Ajuda internacional é importante, mas cabe à região preservar Amazônia, diz Lula
O presidente citou também seu discurso na COP27, que aconteceu em novembro no Egito, e a promessa de convocar uma Cúpula dos Países Amazônicos nos próximos meses. A ajuda internacional para preservar a floresta é chave, disse ele, mas cabe à região liderar:
— A cooperação que vem de fora da nossa região é muito bem-vinda, mas são os países que fazem parte desses biomas que devem liderar, de maneira soberana, as iniciativas para cuidar da Amazônia — disse Lula. — Por isso, é crítico que valorizemos a nossa Organização do Tratado de Cooperação Am,azônica.
O presidente também lembrou da candidatura de Belém (PA) para sediar a COP30, em 2025. O apoio que vem recebendo da Celac, disse Lula, é “indispensável” para mostrar a “importância de preservação do meio ambiente e do combate à mudança do clima”.
Desafios globais exigem ‘respostas coletivas’ e não ‘importar rivalidades’
A maior parte dos desafios hoje enfrentados, disse o Lula, é global e “exige respostas coletivas”. O desejo, afirmou o petista, não é “importar para a região rivalidades e problemas particulares”, mas buscar soluções para problemas comuns.
Lula, em seguida, listou avanços da Celac nos anos em que o Brasil esteve ausente, como a criação de um plano de fortalecimento das capacidades de produção de vacinas anti-Covid. O grupo, disse ele, “tem muito a contribuir” para as crises internacionais.
O petista citou ainda a necessidade de colaboração para o combate à crise energética, com a transição verde, e de preservação da biodiversidade, afirmando que a América Latina e o Caribe são “uma potência em recursos aquíferos, chave para o futuro da humanidade”.