Militares negam tentativa de golpe no país

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Foto: Reprodução

Foram dez dias de balanço. Desde que criminosos invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes, o comando do Exército teve que digerir críticas, admitir erros e buscar formas de tentar minimizar os danos para a imagem as Forças Armadas.

A despeito do desgaste para os militares, com algumas acusações de leniência e da desconfiança do presidente Lula (PT), militares de alta patente ouvidos pela coluna afirmam que a avaliação feita na caserna é que não houve uma tentativa de golpe no dia 8.

Reconhecem que houve “falhas de inteligência”, mas dizem que os informes das forças de segurança não traziam alertas de conflitos.

Defendem ter se tratado de uma “manifestação que saiu do controle”, condenam a depredação do patrimônio e repetem que houve erro de inteligência. Além disso, afirmam que não houve adesão de nenhuma das três Forças para tentar embarcar num golpe de estado.

Existente havia mais de dois meses, o acampamento em frente ao quartel-general, segundo fontes do Exército, vinha esvaziando desde a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e tinha diminuído substancialmente na sexta-feira, dia 6 de janeiro. A chegada de ônibus com os manifestantes vândalos se deu em grande parte no sábado.

Apesar de a Abin (Agência de Inteligência Brasileira) ter produzido relatórios na véspera dos atos do dia 8, de acordo com um general da ativa, para o Exército não houve nenhuma sinalização de distúrbio social.

A responsabilização do erro, no entanto, é motivo de controvérsia. Enquanto o governo do Distrito Federal acusa o Exército, os militares dizem que estavam de prontidão se o governador os acionasse.

As notícias de militares participando das manifestações do dia 8 — que terminaram com atos de vandalismo nos prédios dos Três Poderes — também foi uma preocupação para a cúpula do Exército.

Apesar disso, generais afirmam que o principal problema tem vindo de militares da reserva, identificados com o bolsonarismo, muitos que serviram na época da ditadura, e que nos últimos anos foram cativados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.

Até o momento, o Exército não identificou militares da ativa nos atos de vandalismo, mas as apurações continuam. Segundo generais, porém, há uma situação de “normalidade” dentro dos quartéis.

Eles admitem, no entanto, que há a possibilidade de que “em momentos de folga” ou “à paisana” soldados ou militares de baixa patente possam ter participado em algum momento do acampamento, com os familiares, por exemplo. E dizem que, se ficar comprovado algum ato ilícito, haverá punição.

O estatuto do Exército veda a participação de militares da ativa em atos políticos.

Mas, da mesma forma como fizeram os antigos comandantes — ao dizer que as manifestações eram legítimas —, os atuais generais que comandam a Força dizem que não há impeditivo para a participação de militares como pessoas físicas, desde que não usem nenhum adereço oficial.

A cúpula militar apoiou a decisão do comandante Júlio César de Arruda de enfrentar uma orientação do ministro da Justiça, Flávio Dino, para que o acampamento em frente ao QG fosse encerrado na noite de domingo.

Na avaliação de generais próximos a Arruda, tentar remover as pessoas logo após a destruição do Planalto, do Congresso e do Supremo poderia gerar uma “guerra”.

Segundo um general, seria um enfrentamento com um grupo que poderia estar armado, com “sangue quente” e seria um “risco desnecessário”.

Na versão deste militar, o resultado de ter deixado a operação no acampamento para o dia seguinte teria se mostrado “satisfatório”, com cerca de 1.200 pessoas presas.

O desempenho do atual ministro da Defesa, José Múcio, tem sido elogiado por integrantes do Exército.

Desenvolto no universo militar, Múcio tem feito visitas frequentes ao QG, já promoveu dois almoços para “alinhamento” com comandantes das Forças e ministros do governo e prepara uma nova reunião entre os militares e o presidente Lula para esta semana.

O ministro, que já sofreu críticas por outros pares no governo, é chamado pelos militares de “craque” e “construtor de pontes”. Além de intensificar a aproximação com a cúpula das Forças, a ação de Múcio de buscar diálogo com ex-ministros da Defesa também tem sido elogiada e vista como uma estratégia inteligente de conhecer as reais demandas das Forças.

Na caserna, a ordem é lembrar que os militares pertencem a uma instituição de Estado. Por isso, o foco é tentar descolar o Exército da imagem de Bolsonaro e buscar investimentos.

Apesar de reconhecerem que há dificuldades no Orçamento do governo, militares veem com bons olhos as sinalizações do ministro de prometer investimentos na modernização das Forças Armadas.

Nas demandas do Exército há, por exemplo, a modernização de helicópteros que atuam na Amazônia, que estariam encerrando a vida útil, e a aplicação de mais recursos nas forças blindadas.

Uol