Moraes põe terroristas em pânico com bloqueio do Telegram

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Foto: Reprodução

Bolsonaristas entraram em um verdadeiro clima de barata-voa na tarde com a derrubada de dezenas de grupos do Telegram nesta quarta-feira (11). O bloqueio dos chats, determinado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, pegou muitos apoiadores de surpresa e gerou uma corrida a alternativas, como o aplicativo de mensagens Signal.

O clima, porém, é de muita desconfiança e paranoia. Ainda no calor das prisões de bolsonaristas terroristas em Brasília, que agitavam o Telegram nos últimos três dias, a medida do Supremo caiu como uma bomba. Nos grupos criados em substituição aos bloqueados, há um temor nunca visto com a presença de “infiltrados” e “esquerdistas” que possa levar à prisão de mais apoiadores de Bolsonaro.

“Não teria como fazer um filtro para a entrada nos grupos do Signal? Eu não confio em mais ninguém”, lamentou um bolsonarista. “Meu coração transborda de tanta tristeza, medo e depressão. Tô apavorada com o que vem pela frente. Vou perder os meus filhos pra esse comunismo maldito”, respondeu uma apoiadora de Bolsonaro.

A deliberação de Moraes foi uma resposta a um pedido da Advocacia-Geral da União no STF na última terça-feira. Como antecipamos ontem, o governo Lula detectou uma nova ameaça golpista nas redes e entregou ao Supremo uma lista de 46 grupos do Telegram com conteúdo golpista.

O aplicativo russo é a principal forma de comunicação do bolsonarismo atualmente. Diferentemente do WhatsApp, o Telegram permite grupos com dezenas de milhares de participantes e promete maior privacidade, entre outras funcionalidades.

O Signal já havia se tornado popular entre integrantes do STF e parlamentares após o vazamento de diálogos comprometedores entre procuradores da Lava-Jato e o então juiz Sergio Moro, no episódio que ficou conhecido como Vaza-Jato.

Moraes já havia determinado bloqueios de grupos do Telegram na condição de magistrado do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas, na ocasião, as ações foram bem mais restritas.

A maior preocupação dos bolsonaristas era que a obtenção de informações sobre os terroristas presos em Brasília em função dos ataques de 8 de janeiro ficasse prejudicada.

“Sem os grupos do Telegram vai ficar mais difícil receber os vídeos de lá. Demoram para chegar no Twitter”, escreveu uma bolsonarista no Signal. “Vão cair no esquecimento”, lamentou outra. “A minha única preocupação hoje é como tirar esses irmãos daquele lugar. Estou me sentindo um lixo”, declarou uma terceira.

Alguns administradores de grupos tentaram mudar o nome para driblar a decisão do STF, sem sucesso – cada chat é identificado por um código único e a relação da AGU, com 46 listados, foi repassada à corte. Outros membros chegaram a apelar, em desespero, para que o nome fosse alterado – sem sucesso.

“Estão derrubando os grupos. Começou o expurgo”, escreveu um bolsonarista com o print de chats já bloqueados por determinação do TSE. “Tempos sombrios. O que faremos?”, respondeu outro.

O monitoramento da equipe da coluna identificou, no entanto, a criação de novos grupos com títulos sem relação com a política ou o bolsonarismo, em uma tentativa de despistar novas decisões do STF e o monitoramento de setores de inteligência.

Entre os chats aparentemente inofensivos estavam “O baú secreto do vovô” e “Grupo Erva Sidreira (sic) e Boldo”.

Diante do bloqueio em massa, participantes de grupos que continuavam no ar se articularam para criar redes similares no Signal. Apesar de rápida, a adesão não foi maciça – o processo envolve a instalação de um novo aplicativo e um cadastro, o que demanda alguma disponibilidade no momento da migração.

No Signal, também foram adotados nomes aleatórios como “Aquarela” e “Salvação”. Nos primeiros minutos após a criação, muitos tentavam se familiarizar com o aplicativo e pediam ajuda aos demais.

Uma pergunta, no entanto, era onipresente nos chats que surgiram na tarde de hoje.

“Alguém sabe se esse tal de Signal pode ser derrubado pelo ‘cabeça de ovo’?”, questionou um bolsonarista, em uma referência jocosa a Alexandre de Moraes. “Aqui não dá para derrubar, é só o Telegram”, respondeu um deles.

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Apesar do tom incendiário das mensagens replicadas no Telegram nesta semana, o pessimismo imperou nos chats na tarde desta quarta, após o bloqueio dos grupos. Alguns falavam em deixar o país e pleitear cidadania estrangeira, e outros davam como descartada a possibilidade das Forças Armadas intervirem para derrubar o governo eleito.

Isso, no entanto, não impediu os bolsonaristas de fomentar ataques aos Poderes constituídos. Em um dos chats do Signal monitorados pela equipe do blog, alguns seguidores de Jair Bolsonaro elaboraram a tese de que o PT poderia ser derrubado do poder, não fosse a figura de Alexandre de Moraes.

“Tinha que morrer”, escreveu uma extremista. “Mas vai (morrer), em breve. Amém”, respondeu outra. “Deus te ouça. Que alguém acabe com ele”, retrucou a primeira.

Ainda é cedo para determinar se o Signal se tornará o novo paraíso bolsonarista nas redes. O aplicativo é conhecido pelos termos de uso que dizem proteger os dados e a privacidade de seus usuários – premissa similar à do Telegram, que adotou uma postura omissa no país até aceitar colaborar com a Justiça Eleitoral, em 2022, sob ameaça de um bloqueio nacional.

Fato é que, em um momento sensível para a democracia brasileira e as forças de segurança, a mobilização exigirá alguma adaptação por parte das autoridades.

O Globo