Múcio ignora birra de ex-comandante da Marinha
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A cerimônia de troca de comando da Marinha do Brasil, ontem, no Clube Naval de Brasília, na qual assumiu o posto maior da Força o almirante de esquadra Marcos Sampaio Olsen, foi marcada pela ausência do antecessor, o também almirante de esquadra Almir Garnier Santos — considerado o mais bolsonarista dos ex-chefes militares.
Na plateia, porém, havia integrantes tanto do governo de Jair Bolsonaro (PL), quanto de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em um gesto pacificador, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, repetiu algumas vezes que, nas Forças Armadas, estava “tudo em paz”.
O ex-comandante Garnier Santos enviou apenas uma mensagem por escrito, lida por um militar, para saudar o novo titular da Marinha. A ação repercutiu entre os militares presentes e foi vista como um ato político de insatisfação com o resultado das eleições. Ele foi o único dos chefes de Força do governo anterior a não participar da cerimônia de troca de comando.
No ano passado, o almirante postou várias mensagens, nas redes sociais, de apoio ao então presidente que buscava a reeleição. Sampaio Olsen, porém, foi o único dos novos comandantes a agradecer nominalmente o presidente Lula. Ele também prometeu “lealdade” a José Múcio Monteiro.
“Expresso aqui notória gratidão ao presidente da República Federativa do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, pelo apanágio ao nomear-me comandante da Marinha. Agradeço o introdutório de orientações e estímulo, particularmente ao referir-se à necessidade premente de prover o requerido espaço orçamentário para aumentar a capacidade e prontidão operacional da Marinha do Brasil”, declarou. Em seguida, estendeu o agradecimento ao ministro, “asseverando minha lealdade, comprometimento, disponibilidade e diligência na condução da Força Naval”.
Outras autoridades compareceram à posse, incluindo ministros do governo Bolsonaro, entre eles o ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional general Eduardo Villas-Boas — que apoiou os acampamentos bolsonaristas de caráter antidemocráticos —, o ex-ministro da Defesa general Fernando Azevedo e Silva, e o ex-secretário de Assuntos Especiais almirante Flávio Rocha.
Representando o governo Lula, além do ministro José Múcio, estava a ministra de Ciência e Tecnologia, Luciana Santos, e o ministro da Pesca, André de Paula. Após a cerimônia, Flávio Rocha disse, em rápida conversa com jornalistas, que mantém contato com Jair Bolsonaro, que viajou para os Estados Unidos dias antes da posse de Lula para não participar da cerimônia de entrega de faixa presidencial.
Assim como fez na transmissão de comando da Aeronáutica, o ministro José Múcio adotou um tom conciliador, apesar do constrangimento causado pela ausência do ex-comandante da Marinha Garnier Santos, um dos altos oficiais militares mais próximos do projeto de poder do ex-presidente Bolsonaro.
“A despeito do curto tempo de convívio, pude rapidamente perceber os atributos morais e profissionais que qualificam o almirante Olsen para o exercício deste cargo”, disse o atual ministro da Defesa ao novo comandante, o qual qualificou como um militar de “visão ponderada”.
Entre as prioridades do novo comandante das forças navais brasileiras estão o projeto de desenvolvimento e construção de submarinos convencionais e nucleares — área em que Olsen é especialista —, o programa de modernização da frota e o Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul, uma complexa estrutura de monitoramento via satélite do mar territorial brasileiro e da zona econômica exclusiva, que incluem as bacias petrolíferas do país.
Na área da pesquisa, a Marinha coordena a presença brasileira no Continente Antártico. A troca de comando da Marinha foi marcada por uma tradicional salva de 19 tiros de canhão, um ritual militar que foi vetado pela primeira-dama, Rosangela da Silva, a Janja, na posse do presidente Lula, no último domingo, na Praça dos Três Poderes.