Múcio nega que militares apoiaram terroristas
Como mostrou a Folha, um relatório em posse do Ministério da Justiça identificou ao menos oito militares da ativa lotados na Presidência da República durante o governo de Jair Bolsonaro (PL) que compareceram no ano passado a atos no acampamento golpista em frente ao quartel-general do Exército.
Além disso, o documento mostra que alguns participaram de grupo de WhatsApp em que foram trocadas e compartilhadas mensagens antidemocráticas e ameaças a Lula.
O relatório foi produzido durante a transição de governo com base em conversas obtidas de grupos de WhatsApp. Os militares estavam alocados em especial no GSI (Gabinete de Segurança Institucional) da Presidência durante a gestão do general Augusto Heleno, um dos principais aliados de Bolsonaro.
Apesar de refutar um envolvimento direto das Forças Armadas no ato golpista, Múcio admitiu que a reunião foi antecipada para reduzir a tensão da relação entre Lula e as Forças Armadas.
“Não tenha a menor dúvida que foi por isso nós procuramos antecipar essa reunião”, disse.
Ele afirmou que a previsão é que o encontro ocorreria no final de janeiro ou começo de fevereiro, mas que pediu aos chefes militares para anteciparam a conclusão dos relatórios solicitados por Lula sobre a situação de cada corporação para apresentar ao mandatário.
Nesta sexta-feira, a reunião de Lula com os comandantes das Forças Armadas também teve a participação do presidente da Fiesp, Josué Alencar, e de outros empresários.
O ministro da Defesa afirmou que as questões envolvendo as manifestações golpistas de 8 de janeiro não foram discutidas no encontro. A pauta seria o fortalecimento da indústria de Defesa nacional. Múcio afirmou que os comandantes têm consciência que Lula em seus primeiros dois mandatos fortaleceu a Marinha, Exército e Aeronáutica, com projetos estratégicos, como o submarino nuclear e os novos caças.
“E ele [Lula] quis renovar essa confiança. Evidentemente, que não poderíamos ficar com essa agenda última [do ato golpista], a gente tem que pensar para frente, a gente tem que pacificar esse país. A gente tem que governar”, afirmou.
Múcio e as Forças Armadas viraram alvo de crítica de petistas, por causa da facilidade com que os manifestantes invadiram a Esplanada dos Ministérios e provocaram a destruição dos prédios públicos.
A situação do ministro da Defesa ficou delicada, porque ele evitou a tratar os acampamentos em frente aos quarteis como ações antidemocráticas. Múcio chegou a afirmar que o próprio Jair Bolsonaro era um democrata. O titular da pasta disse não se arrepender de suas falas.
“Não me arrependo [de ter classificado como democráticas], porque eu vim para negociar. Eu não podia negociar com você e a priori criar um pré-julgamento para você. Não me arrependo”, afirmou.
O ministro afirmou que os militares estão cientes de que vai precisar haver uma investigação sobre os eventos de 8 de janeiro e eventual punição, mas que será preciso cuidado na investigação.
“Os militares estão cientes e concordam que nós vamos tomar essas providências. Evidentemente que no calor da emoção a gente precisa ter ter cuidado para que esse julgamento, essas acusações, sejam justas para que as penas sejam justas. Mas tudo será providenciado em seu tempo”, afirmou.
Múcio ainda afirmou que queria “virar a página” em relação aos atos golpistas e disse que não há hipótese de que essas ações venham a se repetir. Afirmou que agora as Forças Armadas “irão se antecipar”.
Após o encontro com Lula, Múcio e os comandantes militares participaram de uma outra reunião para os preparativos de uma viagem de última hora do presidente a Roraima. Participaram desse encontro também os ministros Rui Costa (Casa Civil), Wellington Dias (Desenvolvimento Social), Nísia Trindade (Saúde), Sônia Guajajara (Povos Indígenas) e Esther Dweck (Gestão).