Ônibus dos golpistas vieram de cidades onde Bolsonaro venceu
Bruno Santos – 8.jan.23/Folhapress
RIO DE JANEIRO
As cidades de origem dos ônibus que estão sendo investigados após os atos golpistas do último domingo (8) votaram majoritariamente em Jair Bolsonaro (PL) nas eleições presidenciais.
O ex-presidente recebeu uma média de 61,6% dos votos válidos nos municípios em que ficam localizadas as empresas donas dos veículos, enquanto no país como um todo seu resultado foi de 49,1%.
Horas depois da invasão dos edifícios dos Três Poderes, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes determinou a apreensão de 85 ônibus que haviam chegado a Brasília nos dias anteriores.
Esses veículos, usados para levar os manifestantes à capital federal, são de companhias de transporte com sede em 65 cidades, segundo levantamento da Folha. Destas, em 56 a votação de Bolsonaro no segundo turno superou a de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Em Londrina (PR), por exemplo, origem de cinco dos ônibus, o ex-mandatário recebeu 72,9% dos votos em outubro. Em Goiânia, matriz de quatro veículos, ele teve 63,9%. A maior votação proporcional, porém, foi no município catarinense de Pomerode, de 35 mil habitantes (80,5%).
Grande parte das cidades que abrigam essas empresas é pequena e fica no interior: metade registrou menos de 100 mil votos válidos no último pleito, por exemplo.
O estado de São Paulo é o que concentra o maior número de emplacamento desses ônibus (35). Depois vem o Paraná (22), seguido de Minas Gerais (11) e Goiás (5).
As únicas nove cidades que estão na listagem e onde Lula venceu as eleições são a capital paulista, Mauá, Cubatão, Osasco e Embu das Artes (SP), Juiz de Fora (MG), Bituruna e Imbaú (PR) e João Pessoa (PB).
A lista de Moraes inclui apenas os ônibus identificados pela Polícia Federal até domingo, e a matriz das empresas pode não coincidir com os lugares de onde os veículos partiram, mas é comum que eles levem passageiros da região de suas garagens.
Os proprietários dos transportes apreendidos, bem como os seus financiadores, estão sendo identificados e ouvidos pela PF no curso do inquérito que corre no STF. Até agora, 1.159 pessoas foram presas e encaminhadas ao complexo penitenciário da Papuda.
Moraes determinou no domingo que os donos dos ônibus apresentassem, em 48 horas, “a relação e identificação de todos os passageiros, dos contratantes, inclusive apresentando contratos escritos caso existam, meios de pagamento e quaisquer outras informações”.
Algumas das empresas que responderam ao contato da Folha nesta terça (10) negaram ter relação com os atos golpistas e disseram que normalmente não sabem qual é o motivo das viagens contratadas.
Bolsonaro tenta se desvincilhar dos atos violentos golpistas. No dia do ataque em Brasília, ele escreveu, dos Estados Unidos, que invasões e depredações de prédios públicos “fogem à regra”. Também comparou a prática à atuação da esquerda e repudiou acusações de Lula contra ele.
O ex-presidente, porém, atiçou atos antidemocráticos de seus apoiadores desde que perdeu o pleito. Na semana da derrota, em declaração rápida, ele disse defender as manifestações, apenas condenando o bloqueio de estradas.
Depois, quebrou um silêncio de 40 dias com um discurso dúbio salpicado de referências às Forças Armadas, repetiu a retórica de campanha e estimulou indiretamente seguidores que contestavam a vitória de Lula.