PL dará sangue para comandar Senado

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Foto: EVARISTO SA / AFP

Em uma disputa que tende a replicar a polarização observada nas últimas eleições nacionais, o PL decidiu partir para o “tudo ou nada” contra a favorita candidatura à reeleição do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). O partido do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) está decidido a lançar Rogério Marinho (RN) contra o senador mineiro, mesmo sabendo que isso pode tirar a legenda das posições mais importantes da mesa diretora da Casa e das principais comissões temáticas.

Hoje, com 14 senadores, o PL tem a maior bancada para a próxima legislatura. Em tese, conta com o apoio de parlamentares do Progressistas e do Republicanos, que também apoiaram Bolsonaro no pleito de outubro. Do outro lado, no entanto, vai se formando uma composição que deve espelhar a frente ampla que elegeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Nos bastidores, o plano do grupo político de Pacheco é negociar espaços estratégicos para senadores desses partidos que o apoiarem na eleição, marcada para 1º de fevereiro, o que pode deixar de fora dessa divisão os senadores que fecharem apoio a Marinho.

Provável líder da oposição a partir de fevereiro, o senador Carlos Portinho (PL-RJ) descarta uma composição com Pacheco porque, em sua visão, o partido não seria contemplado com uma posição relevante de qualquer maneira. “Não existe a possibilidade de o PL ocupar uma posição relevante, à altura da maior bancada, numa possível nova gestão do Pacheco. Se compormos, vão entregar a CCJ [Comissão de Constituição e Justiça] para o PL? Então não temos nada a perder”, argumenta.

A menos de uma semana para a disputa, os dois lados têm estratégias e avaliações do cenário completamente diferentes. Enquanto aliados de Pacheco consideram bem encaminhada a vitória, bolsonaristas garantem que a disputa será apertada.

Marinho tem se empenhado no corpo a corpo com os pares e viajado a Estados considerados estratégicos, para pedir votos aos senadores. Nas contas do PL, Marinho teria hoje 35 votos e Pacheco, outros 35. Nesse cenário, faltaria convencer 11 indecisos, que decidiriam a eleição. O Senado tem 81 integrantes e ganha o candidato que obtiver 41 votos.

O placar é radicalmente diferente daquele projetado por aliados de Pacheco, que acreditam que ele tenha entre 50 e 60 apoios.

Outra candidatura colocada neste momento é a do senador Eduardo Girão (Podemos-CE). Ele assegura que não a retirará, mas tanto governistas quanto a oposição apostam que sairá do páreo antes do pleito, em favor de Marinho. “Nossa candidatura tem pautas diferentes do senador Rogério Marinho. Chega de personalismos, precisamos virar essa página. Eu vou com a candidatura até o fim”, afirmou Girão ao Valor.

Como o voto é secreto, os bolsonaristas apostam em traição em massa pró-Marinho na bancada do União Brasil, que formará bloco com MDB e PSD em apoio a Pacheco, no apoio maciço do Podemos e do PSDB e defecções dentro do PSD e do MDB, além dos apoios do PP e Republicanos.

Já os aliados de Pacheco acreditam que ele terá votos, inclusive, dentro do PL. Nos bastidores, o PSD articula para aumentar o número de parlamentares no Senado e vislumbra chegar à eleição com uma bancada ligeiramente maior que a do PL.

Nesse contexto, a aliança encabeçada por Pacheco avança nas articulações para a composição da mesa diretora do Senado e para as comissões temáticas. Aposta-se, por exemplo, que o PT possa ocupar a primeira vice-presidência da Casa, hoje com o MDB. Um dos cotados para a cadeira é o senador Humberto Costa (PT-PE).

Um outro foco das negociações é a CCJ, hoje ocupada pelo ex-presidente do Senado e um dos principais aliados de Pacheco, Davi Alcolumbre (União-AP). Adversários de Pacheco argumentam que sua eventual disposição de manter Alcolumbre à frente do colegiado pode desgastá-lo. Outra comissão cobiçada é a de Assuntos Econômicos (CAE), hoje com o PSD.

Valor Econômico