Posse de ministros de Lula têm desagravo a Dilma
Foto: O Globo
O retorno de Dilma Rousseff a Brasília, desde a posse de Luiz Inácio Lula da Silva — na qual ganhou posição de destaque, foi aplaudida e ouviu até pedidos de selfie —, vem ganhando contornos de uma dramática volta por cima. Após sofrer o impeachment, em 2016, e amargar as dores do ostracismo e da baixa popularidade, a ex-presidente tornou-se, nos últimos dois dias, uma das figuras mais presentes nas cerimônias que empossaram o novo Ministério. Mais do que isso: bastava Dilma dar as caras para que as solenidades virassem uma espécie de ato informal de desagravo à petista, com direito a palmas efusivas, abraços e discursos emocionados, além de defesas enfáticas do que foi citado como um legado deixado pela primeira mulher a governar o país.
— A sua presença aqui neste ato, como a senhora foi recebida, é uma reparação histórica das injustiças que a senhora sofreu — frisou Alexandre Padilha ao ser empossado, na última segunda-feira, na presença de Dilma, como ministro das Relações Institucionais. A petista foi ovacionada no evento, enquanto o presidente da Câmara, Arthur Lira, acabou vaiado pelos presentes.
Nesta terça, Paulo Pimenta seguiu o mesmo caminho ao assumir oficialmente a Secretaria de Comunicação Social (Secom). Ao discursar, o petista saudou Dilma na plateia, mais uma vez sob aplausos, e afirmou que ela foi vítima de uma “injustiça histórica”. Já na posse de Esther Dweck como ministra de Gestão, no mesmo dia, coube à própria ex-presidente ir ao microfone, momento no qual não escondeu a emoção recente:
— Eu fiquei muito comovida. Nós entramos no Palácio do Planalto depois de seis anos — reconheceu, antes de prometer: — Ainda não fomos ao Alvorada, mas um dia vamos entrar para matar a saudade.
Dilma também foi convidada a discursar na posse de Jorge Messias na Advocacia-Geral da União. Durante a gestão da petista, Messias chefiou a Secretaria de Assuntos Jurídicos (SAJ) da Presidência da República, período marcado pelo episódio “Bessias”, quando um diálogo dela com Lula foi captado e tornado público pelo então juiz Sergio Moro, em 2015. Com a voz embargada, Dilma chamou o novo advogado-geral da União de “meu querido” e “amigo” e ensaiou até uma sutil mea-culpa:
— Os erros são meus, mas eu agradeço ao Messias por ter me ajudado a acertar.
A imagem de Dilma foi lembrada até em solenidades às quais ela não compareceu. Ao assumir o Itamaraty, em cerimônia realizada simultaneamente à posse de Messias, o chanceler Mauro Vieira, que ocupou o mesmo posto com a ex-presidente, recordou o “doloroso processo de impeachment, que deixou marcas”.
— Não é comum que nos seja dada uma segunda oportunidade de fazer algo que foi bruscamente interrompido — pontuou Vieira.
Mesmo em alta entre os correligionários, porém, Dilma ainda não tem presença confirmada no governo. Como mostrou a colunista do GLOBO Malu Gaspar, integrantes do PT cogitaram colocar a ex-presidente para chefiar uma embaixada em Portugal ou na Argentina. Contudo, embora o partido não admita publicamente, existe o receio de que a escolha gerasse desgaste ou até acabasse barrada no Senado, a quem cabe avalizar este tipo de nomeação.
Outra alternativa seria indicar Dilma para uma estatal de peso ou um órgão multilateral, sem necessidade de passar pelo Congresso. Neste caso, no entanto, precisa ser levado em conta também o custo político, sobretudo devido à conturbada herança econômica deixada pela petista, que foi amplamente explorada por adversários de Lula durante a corrida presidencial.
Com o destino indefinido, a petista, por ora, segue curtindo o reencontro com a boa fama. No retorno de Brasília para o Rio, na noite desta terça-feira, ela voltou a ser aplaudida no avião e acenou ao ouvir o coro: “Olê, olê, olê, olá, Dilma, Dilma”.