Saiba como Lula ‘dobrou’ direitista uruguaio

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Foto: Dante Fernandez/AFP

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve de usar muito do traquejo político que tem para tentar manter aceso o interesse do Uruguai no Mercosul. No encontro que teve com o presidente Luis Lacalle Pou, o petista ressaltou as conexões pessoais que mantém com nomes de peso da sociedade uruguaia e garantiu que pretende tornar mais equilibrada a relação que o Brasil mantém com o vizinho, levando adiante projetos binacionais.

Depois de, dias antes, ressaltar na Argentina a importância do Mercosul e salientar a necessidade de reforçar os laços entre os países integrantes da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), Lula ajustou o discurso diante de Pou. Isso porque, o governo de Montevidéu pretende fechar um acordo comercial com a China fora do bloco das nações do Cone Sul. O presidente classificou as demandas uruguaias de “justas” e disse estar “totalmente de acordo” com a proposta do governo vizinho de mudanças no Mercosul.

“O que precisamos fazer para modernizar o Mercosul? Queremos sentar à mesa com nossos técnicos, depois com nossos ministros, e, finalmente, com os presidentes para que a gente possa renovar aquilo que for necessário inovar”, admitiu.

A principal missão de Lula de Montevidéu era tentar dissuadir Pou de assinar o Tratado de livre Comércio (TLC) com a China, que está em fase avançada de elaboração. Tanto que o brasileiro disse ser possível um acordo entre o governo de Pequim e o Mercosul, desde que haja conversas mais profundas e que envolvam técnicos, ministros e presidentes dos países integrantes do bloco.

O brasileiro, porém, tem uma tarefa difícil em função do mal-estar existente entre Argentina e Uruguai. Em dezembro, o presidente Alberto Fernández e Pou se desentenderam durante reunião do Mercosul — o argentino acusou o uruguaio de quebrar as regras do bloco, o que implicaria em rompimento.

Lula pontuou, ainda, a necessidade de o Brasil em acelerar e concluir o acordo com a União Europeia (UE), antes de um possível acerto entre China e Mercosul. “É urgente e necessário. Ainda estava no primeiro mandato, em 2003, e se discutia esse acordo. Depois, tive o segundo mandato, e também se discutia. Fiquei fora da Presidência por oito anos, voltei para um terceiro mandato e se discute o acordo Mercosul e UE”, lamentou.

Como forma de tentar atrair o Uruguai, Lula citou projetos de infraestrutura binacionais. E ouviu de Pou apoio do Brasil na internacionalização do aeroporto de Rivera — que faz fronteira com Santana do Livramento (RS) —, além da construção de uma ponte na fronteira sobre o Rio Jaguarão.

“Têm muitos brasileiros e brasileiras que sonham que o aeroporto de Rivera se converta em um aeroporto internacional. Vamos discutir isso com muito carinho com o ministro de Portos e Aeroportos e logo o presidente terá uma resposta”, disse, para acrescentar. “Estou até envergonhado, porque penso que assinei alguma coisa com o (ex-presidente) Pepe Mujica. Pensei que esta ponte estava pronta e soube que nem começou. Às vezes se reúnem, decidem e quando pensa que vai inaugurar, recebe a notícia que a obra não foi nem começada”, afirmou.

Mas nem tudo no encontro girou em torno da reconstrução do relacionamento com o Uruguai. Houve espaço para a política brasileira recente. Mais uma vez, Lula criticou o presidente Jair Bolsonaro ao afirmar que herdou um Brasil “semidestruído”, com cenário de fome. Também classificou o presidente Michel Temer de “golpista” e acusou os dois de desmontarem as políticas sociais.

“Quase tudo que fizemos de benefício social no nosso país, em 13 anos de governo, foi destruído em sete anos: três do golpista Michel Temer e quatro do governo Bolsonaro. Por isso, o lema do meu governo é união e reconstrução”, destacou.

Correio Braziliense