Bolsonaro acha que terrorismo e racismo são a mesma coisa
Foto: Eva Marie Uzcategui/Bloomberg
Em uma apresentação nos Estados Unidos no evento SA Summit 2023, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deu “graças a Deus” por não estar no Brasil no dia 8 de janeiro, quando milhares de apoiadores de sua chapa invadiram e depredaram o Palácio do Planalto, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF). Apesar disso, para ele, não houve golpismo ou terrorismo na ocasião. E manifestou indignação com a prisão de suspeitos.
“Vocês não apontam uma medida minha fora das quatro linhas da Constituição ao longo de quatro anos [de mandato]. Se bem que eu era acusado o tempo todo de que eu queria dar um golpe”, disse no palco.
“Acredito que se eu estivesse no Brasil, presente, no dia 8, com toda certeza iriam querer associar com muito mais força o que aconteceu no 8 de janeiro”, completou. “Graças a Deus eu estava aqui, nos Estados Unidos.”
Ele reclamou dos que falam em tentativa de golpe naquela data. “Golpe precisa ter um comandante, tem de ter tropa. Falam em terrorismo. Terrorismo… terror. E a nossa legislação, quando fala em terrorismo, são coisas voltadas para racismo e xenofobia. E nada disso apareceu lá”, afirmou.
Segundo Bolsonaro, “querem agora calar as redes sociais” no Brasil como reação aos episódios do 8 de janeiro. “Será realmente o marco de uma ditadura no Brasil”, disse. “E agora vem acontecendo com esses 900 presos no Brasil. É inacreditável o que está acontecendo no Brasil.”
A uma plateia simpática a ele, que o interrompeu com aplausos em mais de uma ocasião, Bolsonaro afirmou que uma pessoa pode ser presa no Brasil simplesmente por falar em urna eletrônica ou vacina. “Se você falar ‘urna eletrônica’ ou se falar em vacina ou covid, você é censurado, podendo até ser preso por causa disso. E nós estamos perdendo cada vez mais essa liberdade”, afirmou.
Trechos da participação de Bolsonaro no evento foram divulgados pelo ex-ministro do Turismo Gilson Machado.
Como fazia na campanha, Bolsonaro voltou a citar Venezuela, Argentina, Cuba e Nicarágua como países que inspirariam o atual governo, agora presidido por Luiz Inácio Lula da Silva.
Sem mencioná-lo nominalmente, também criticou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. “O próprio ministro da Economia, que é um dos mais importantes que existe, talvez o mais importante, ele falou: ‘Eu só estudei economia por três meses, porque tinha que passar num concurso, e ainda colei.’ Perdeu-se a vergonha de tudo”, disse. “Não vai dar certo. É [como] botar eu, por exemplo, num centro cirúrgico.”
Na verdade, além de formado em Direito, Haddad é mestre em Economia e doutor em Filosofia pela USP.
Ele voltou a reclamar que as eleições realizadas no Brasil em 2022 não foram transparentes. Candidato à reeleição, Bolsonaro perdeu para Lula por 50,8% a 49,2% no segundo turno. “A gente não consegue entender no Brasil como é que a gente arrastava multidões, o outro lado não arrastava ninguém. E o resultado final foi aquele? Ninguém consegue entender isso daí”, disse Bolsonaro. “Ah, tá duvidando? Não está? Olha. Não foi uma eleição transparente”, completou.
Na sequência, o ex-presidente afirmou que o PL entrou com uma petição na Justiça Eleitoral “para questionar alguns números”.
“Em poucas horas a petição foi arquivada e o partido foi multado em R$ 22 milhões. US$ 5 milhões a multa, para que não haja contestação. Se não tem nada de errado, abre-se as portas”, afirmou.
Na verdade, o PL foi multado em R$ 22,9 milhões pelo ministro Alexandre de Moraes por “má-fé”, uma vez que o partido não apresentou quaisquer indícios e provas que justificassem o pedido de uma auditoria em urnas eletrônicas utilizadas no segundo turno das eleições. A decisão de Moraes foi mantida pelo plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por 6 votos a 1.