Campeão de votos, Boulos assusta direita paulistana

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Foto: Edilson Dantas

Primeiro candidato do PSOL a chegar ao segundo turno de uma eleição à Prefeitura de São Paulo e, dois anos depois, a obtenção da maior votação do estado para a Câmara dos Deputados. Para aliados de Ricardo Nunes (MDB), o histórico recente de Guilherme Boulos é motivo de preocupação para o projeto de reeleição do prefeito.

O assunto foi tratado em um jantar feito na noite desta segunda-feira, em São Paulo, segundo relataram participantes. O encontro foi idealizado por Nunes e organizado pelo presidente nacional do MDB, Baleia Rossi. Estiveram presentes Valdemar da Costa Neto (PL), Gilberto Kassab (PSD), Ciro Nogueira (PP), Milton Leite (União), Paulo Serra (PSDB) e Renata Abreu (Podemos). Os partidos representados no evento planejam formar a coligação de Nunes no ano que vem.

O marqueteiro Duda Lima, que trabalhou na campanha de Jair Bolsonaro (PL) em 2022 e que deve estar com Nunes ano que vem, expôs dados positivos sobre a competitividade do prefeito aos convidados. No cenário apresentado, ele aparece empatado com o ex-governador Rodrigo Garcia (PSDB), que acaba de sair de uma eleição.

O diagnóstico feito pelos presentes é de que Boulos representa hoje a maior força na esquerda em São Paulo e tem chances de tomar a cadeira de Nunes na eleição de 2024. Em 2020, o candidato do PSOL desbancou o PT, que ficou de fora do segundo turno da eleição municipal da capital pela primeira vez na história, e enfrentou o então mandatário Bruno Covas (PSDB). O tucano venceu o duelo por 59,38% contra 40,62%.

Para alguns aliados, no entanto, a torcida é para que o duelo no segundo turno seja de fato entre Boulos e Nunes. Eles confiam que setores expressivos do eleitorado paulistano têm fortes resistências ao PSOL, o que facilitaria o caminho para a reeleição.

O grupo se articula para turbinar a comunicação em relação às ações do prefeito, para que ele chegue em seu ano final de mandato mais popular. Nunes é desconhecido pela população e, embora desfrute de um acúmulo de caixa nunca antes visto na história da cidade, de R$ 26 bilhões, carece de uma marca para chamar de sua no próximo pleito.

A ideia é que deputados e secretários filiados aos partidos aliados se engajem mais em comunicar os feitos da Prefeitura. O arco de alianças também deve contribuir para uma boa cota de tempo de televisão e rádio para o MDB durante a campanha eleitoral.

Maior orçamento municipal e colégio eleitoral do país, São Paulo é considerada um bastião importante para a eleição presidencial de 2026. Além da projeção do cargo e da repercussão nacional, a cidade tem uma poderosa máquina de distribuição de cargos.

— Se o Boulos ganhar, acho que o país pode passar por um processo de radicalização muito grande, e o governo Lula vai achar que a população dá aval a um projeto de extrema-esquerda — afirma o senador Ciro Nogueira, presidente nacional do PP e um dos presentes no jantar.

O entorno de Boulos avalia que a estratégia de Nunes é criar uma polarização com o PSOL em 2024 e para se garantir no segundo turno como o principal candidato da direita. Assim, prevaleceria sobre nomes como Ricardo Salles (PL) ou Eduardo Bolsonaro (PL), que podem se tornar competitivos pela força do bolsonarismo — que elegeu Tarcísio de Freitas (Republicanos) governador e tirou o PSDB do Palácio dos Bandeirantes pela primeira vez em três décadas — e desbancar o prefeito na corrida eleitoral.

Aliados do deputado federal também dizem acreditar que o prefeito, em sua busca por uma vitrine eleitoral, tenta se apropriar de pautas sociais para rivalizar com Boulos. Além de sua tentativa de aprovar a gratuidade do transporte público na cidade, Nunes publicou um artigo no jornal Folha de S.Paulo nesta semana divulgando suas ações sociais de moradia.

Diante da dificuldade de colocar de pé a tarifa zero, Nunes estuda um plano B para não ficar de mãos atadas em 2024, como mostrou O GLOBO. Embora a ideia seja bem vista por correligionários do prefeito, todos admitem a dificuldade de executá-la. É preciso que toda a infraestrutura de transportes esteja preparada para um aumento substancial na demanda por ônibus. Uma das alternativas seria a implementação da gratuidade apenas para as famílias inscritas no CadÚnico — um universo menor e tido como mais viável de atender.

A eleição de 2022 deixou esperanças para a esquerda. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceu o então presidente Jair Bolsonaro (PL) na capital paulista com 47,5% dos votos, contra 38% do rival. O petista contou sobretudo com votos do centro e de bairros mais periféricos.

A votação da periferia foi a que deu a Lula mais força na capital. O petista obteve mais de 50% dos votos válidos em 21 das 58 zonas eleitorais, todas elas em bairros periféricos, com exceção da 1ª Zona, da Bela Vista, no Centro. Essas regiões são consideradas potenciais redutos para Boulos, que terá apoio de Lula na empreitada.

Bolsonaro, por sua vez, não conseguiu superar 50% em nenhuma zona eleitoral da capital. Sua melhor votação foi na Vila Formosa, zona leste, onde obteve 49,32%.

O Globo