Campos recua e vai baixar juros

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Foto: Nadja Kouchi/Divulgação

Numa atitude rara, um presidente em exercício do Banco Central aceitou participar de um programa de entrevista em emissora de TV, nesta segunda-feira (13). Roberto Campos Neto não escondeu a intenção que o levou a aceitar ser publicamente sabatinado por jornalistas, no Roda Viva, da TV Cultura: deixar para trás seu recente passado bolsonarista e compor-se com o governo do presidente Lula.

Foi visível que Campos Neto, muito nervoso nas primeiras respostas e munido de uma cola, sem esconder que se preparara para transmitir a mensagem que transmitiu, procurou se aproximar de Lula, oferecendo-se para colaborar com o governo. Resumindo, baixou a crista.

Nessa direção, chegou a acenar com a possibilidade de antecipar o início de um ciclo de cortes na taxa básica de juros para o meio do ano. Para isso, nas palavras de Campos Neto, as novas regras de controle das contas públicas em substituição ao teto de gastos nem precisariam estar aprovadas, bastaria serem apresentadas ao público e submetidas ao Congresso.

Se confirmado, seria uma reviravolta depois da última decisão do Copom (Comitê de Política Monetária), na quarta-feira (1), que tinha empurrado o início de um ciclo de cortes na taxa básica de juros para 2024. Na ata que continha a mensagem de extensão dos juros no patamar de 13,75% ao ano, o BC também insinuava que as críticas de Lula contribuíam para a deterioração das expectativas de inflação.

Essa indicação de que os juros não recuariam tão cedo e a insinuação de que as críticas de Lula contribuíam para essa decisão fizeram Lula aumentar o tom das críticas à política de juros do BC. É crucial para o governo que a atividade possa reverter o quanto antes as atuais tendências de perda de ritmo, e, nesse sentido, o início de um ciclo de cortes na taxa básica de juros é de extrema importância.

Vai se enganar, porém, quem achar que o presidente do BC ofereceu resistências ao anunciar ser contra, no momento, a alterações nas metas de inflação já estabelecidas para os próximos dois anos. Lula, acompanhado por um grupo considerável de economistas, numa reunião incomum de ortodoxos e heterodoxos, considera muito baixas as metas de 3,25% para a inflação deste ano e de 3%, para 2024 e 2025.

Mais provável que a posição de não mexer nas metas, na reunião do CMN (Conselho Monetário Nacional) marcada para esta quinta-feira (16), seja ratificada pelos dois outros membros do colegiado — além de Campos Neto, que é o secretário, o CMN é formado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a ministra do Planejamento, Simone Tebet. Se é que já não foi previamente acertada.

Uol