Dona de mercadinho em S. Sebastião nega venda de água por R$ 93

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Foto: Reprodução

Entre tantos relatos tristes e revoltantes sobre a tragédia que deixou 65 mortos no litoral norte paulista desde o Carnaval, a suposta venda de um galão de água a R$ 93 causou enorme repercussão e emocionou um repórter durante transmissão ao vivo.

O preço abusivo de um item de necessidade básica que estaria sendo cobrado dos moradores de São Sebastião, cidade mais castigada pelas chuvas, foi publicamente condenado pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e virou alvo de uma operação conjunta da Polícia Civil e do Procon.

Até agora, a prática não foi confirmada pelos órgãos de investigação e fiscalização, mas acabou se tornando o drama de Isabel Estavski, de 69 anos, dona de um mercado na Vila do Sahy, bairro pobre que cresceu na encosta do morro na Barra do Sahy e onde quase 50 pessoas morreram com os deslizamentos de terra provocados pelo temporal.

O Mercado Isabel foi apontado como o estabelecimento que estaria vendendo o suposto galão de água a R$ 93 em plena tragédia. Segundo a comerciante, o boato começou a circular na região após uma emissora de TV gravar reportagem sobre os preços abusivos em frente ao seu mercado.

Ao Metrópoles Isabel afirmou que a acusação é injusta e que a transformaram em um “bode expiatório”.

“Ninguém sabe quem foi. Há pessoas que falam que esse papo surgiu em Camburi, outras dizem que surgiu porque alguém estava vendendo no meio da rua. Só que ninguém viu essa pessoa vendendo, e eu fiquei de bode expiatório. Me falaram que a água de R$ 93 estava sendo vendida na Topolândia, mas já passou pra minha conta”, diz Isabel.

Além do valor do galão de água, circularam informações de que o mercado de Isabel estaria vendendo pacote de macarrão a R$ 20. A comerciante afirma que não aumentou nenhum preço após as fortes chuvas, mas pontua que alguns itens importados estão com valor normalmente mais elevado.

Isabel abriu o primeiro estabelecimento há 40 anos. Agora, ela tem cinco mercadinhos em São Sebastião – um deles só abre durante a alta temporada. Três estão em regiões mais frequentadas por turistas: na Barra do Sahy, Praia da Baleia e Juquehy, na costa sul de São Sebastião.

A loja em que supostamente os produtos de necessidade básica eram comercializados por valor exorbitante está localizada na Vila do Sahy, bairro mais prejudicado pelos desmoronamentos e onde moram os trabalhadores da região.

Isabel afirma que o comércio foi invadido pela lama, que danificou produtos, computadores e impressora, e por isso só conseguiu ser reaberto na tarde de quarta-feira (22/2). Segundo ela, os boatos sobre os preços abusivos começaram antes disso.

“Tive que fechar a loja porque o pessoal estava falando que iria queimar e saquear. Tive que fazer boletim de ocorrência, levei a polícia lá [no mercado]. Eu não tenho culpa de nada. Estou pagando por um negócio que ‘disseram que disseram’. Aí falaram que foi comigo e eu paguei a conta toda”, lamenta Isabel.

A proprietária afirma que decidiu fechar o mercado da Vila do Sahy depois que seus funcionários foram “hostilizados”, e frisa que ainda não tem planos de reabri-lo. Isabel avalia disponibilizar o local para o Instituto Verdescola, que está ajudando as vítimas da tragédia.

“Eu não sei como ficar lá, porque falaram até em me linchar se eu chegasse na vila. Eu não sei o que fazer. Ficou uma loucura, meus funcionários estão sendo ameaçados, as pessoas estão falando que não vão comprar mais comigo. Passam em frente do mercado e gritam ‘Isabel ladrona’. O negócio virou um inferno depois que viralizou, e eu não tenho culpa de nada. Eu fiquei como vilã da história”, reclama a comerciante.

No boletim de ocorrência registrado na manhã do dia 22, no 4º Distrito Policial (DP) de São Sebastião, Isabel menciona o nome de duas mulheres que teriam ido ao mercado para acusá-la de cobrar preços abusivos e depois publicado um vídeo nas redes sociais com xingamentos a ela, e de um homem que teria ameaçado saquear o estabelecimento.

O Procon-SP informou que fez fiscalizações em comércios da cidade do litoral norte, inclusive no mercado de Isabel, para averiguar eventuais cobranças abusivas, e que não foram encontradas irregularidades. Como protocolo, os estabelecimentos foram notificados e devem apresentar ao órgão as notas fiscais dos produtos vendidos.

Metrópoles