Fome do Centrão por cargos está descontrolada

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Foto: Michel Jesus/Câmara

Na terça-feira, o deputado Elmar Nascimento (União-BA) chegou de forma discreta para a reunião de líderes da base aliada. O parlamentar se sentou na segunda fileira de cadeiras da sala de reunião da liderança do governo na Câmara, próximo da parede. Os colegas, em tom de brincadeira, convidaram o líder do União Brasil a passar para a primeira fila. Desconfortável, Elmar inicialmente resistiu, mas acabou cedendo e ocupou um local de destaque. A cena ilustra a relação que o deputado mantém com o governo Lula, depois de petistas da Bahia terem barrado a sua indicação para assumir o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional. O União Brasil emplacou nomes em três pastas.

Preterido, Elmar passou a agir em parceria com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para pressionar o Palácio do Planalto em busca de cargos. A operação deu certo. Na tentativa de construir uma base sólida no Congresso, o governo decidiu, na semana passada, manter o comando da cobiçada Codevasf nas mãos do Centrão. Na estatal, enquanto o parlamentar do União Brasil indicou Marcelo Moreira para presidente ainda em 2019, um dos diretores no governo passado, Davidson Tolentino, é apadrinhado do PP de Lira. Em Alagoas, o superintendente é João José Pereira Filho, primo do presidente da Câmara.

Apesar de estarem em partidos diferentes, os dois são aliados próximos e costumam atuar juntos na negociação de cargos e dividir influência sobre as estruturas. Os laços entre os dois se fortaleceram na primeira eleição de Lira para presidir a Câmara, em 2021. À época no DEM, Elmar liderou dentro do partido a dissidência em relação ao nome indicado pelo então presidente da Casa, Rodrigo Maia (RJ), que apostou em Baleia Rossi (MDB-SP). Ser derrotado dentro da próprio legenda, admitiria Maia, foi um fator decisivo para a vitória de Lira.

Sob a presidência do alagoano na Câmara, o deputado baiano foi relator de projetos importantes como o de privatização da Eletrobras e o que viabilizou o Bolsa Família de R$ 600. Já após a vitória de Lula sobre Bolsonaro, foi Lira quem agiu para tentar emplacar Elmar no comando da Integração Nacional. Mas o escolhido acabou sendo o ex-governador do Amapá Waldez Goes, indicado pelo senador Davi Alcolumbre (União-AP). Presidente do União Brasil na Bahia, o deputado Paulo Azi confirmou a tentativa de Elmar de ser ministro, mas disse que a negociação não foi feita em nome do União Brasil.

— É um cara de que todo mundo gosta, todo mundo tem apreço. Sabia que a escolha, se desse, não seria partidária, que não iria naquele momento levar o partido para a base — afirmou.

Pesaram contra Elmar inclusive críticas pessoais a Lula. Apoiador da reeleição de Bolsonaro e adversário do PT baiano, ele fez comentários irônicos sobre a prisão de Lula, a quem se referia como “ex-presidiário” na campanha eleitoral de 2022.

No fim de dezembro, o local onde Elmar estava durante uma das reuniões finais entre Alcolumbre e Lula para fechar a indicação para o Ministério da Integração demonstra o nível da relação entre o líder do União Brasil e Lira: o deputado baiano acompanhava o presidente da Câmara em Barra de São Miguel (AL), cujo prefeito é pai de Lira.

A pressão da tabelinha Elmar e Lira por mais espaços deve aumentar com a oficialização da federação entre União Brasil e PP, prevista para o início de março. Com a aliança, as duas siglas formarão a maior bancada da Câmara e a segunda do Senado.

Com um orçamento para esteano de R$ 2,2 bilhões, a Codevasf continuará a ser o principal ativo nas mãos de Elmar. Ele agora vai decidir se mantém o engenheiro Marcelo Moreira no comando ou fará outra indicação. A atual gestão acumula uma série de denúncias de irregularidades. A estatal se tornou destino das emendas de relator nos últimos anos, enquanto vigorou o orçamento secreto no governo Bolsonaro.

Além da Codevasf, Elmar tenta emplacar o comando da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). O senador Humberto Costa (PT-PE), porém, quer indicar seu ex-assessor Diego Pessoa, e o Solidariedade, Marília Arraes, derrotada para o governo de Pernambuco.

Estadão