Kassab avisa golpistas que Lula tem “governabilidade”
Foto: Ruy Baron/Infoglobo
O secretário de Governo de São Paulo e presidente do PSD, Gilberto Kassab, afirmou nesta segunda-feira a empresários e executivos de grandes empresas que está confiante com o governo Lula, que o presidente tem boa condição de governabilidade e que fará um governo moderado, de centro-esquerda.
Kassab, que foi prefeito de São Paulo (2006-2012) e ministro dos governos de Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB), participou de um evento do Grupo Voto, que reúne grandes empresários. O grupo tem viés conservador e realizou uma série de encontros da iniciativa privada com Jair Bolsonaro (PL) durante seu governo, alguns dos quais o agora ex-presidente foi ovacionado.
— Lula tem governabilidade hoje e cabe a ele agora acertar. Tem maioria no Senado e na Câmara. Quem acha que não tem esta fazendo a análise errada. Com essa maoria, se acertar na economia, ele vai acertar nos programas sociais que ele sabe fazer muito bem. Os bons programas sociais que tivemos nos últimos 20 anos foram de inspiração no governo Lula — disse Kassab, apressando-se em dizer que não é cabo eleitoral do presidente e que não é petista.
Questionado por empresários sobre um suposto radicalismo do governo Lula, Kassab defendeu o governo. — Tenho muita esperança no governo Lula e nos nossos governos estaduais, em especial São Paulo, Rio, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina, que estão sendo muito bem administrados — disse o cacique do PSD.
Ao ser questionado por um empresário sobre o governo “ainda estar no palanque”, Kassab discordou r disse que a gestão ainda está no início e que tem apenas “um resquício do discurso de campanha”.
— É difícil o Lula, que é muito inteligente, não saber conduzir de uma maneira harmônica os seus projetos sociais com o equilíbrio fiscal. Eu sou confiante — afirmou.
Apesar disso, criticou as declarações de Lula que “fogem do equilíbrio”. — As poucas manifestações do presidente Lula não vão na linha da razoabilidade do ponto de vista do equilíbrio (fiscal). Por outro lado, estamos muito no início. Eu acredito que vá ser um governo no padrão do primeiro governo Lula, tanto é que o meu partido está dando o apoio. Somos parte do governo, base do governo — ressaltou. Para ele, o governo “não é de esquerda” e sim de centro-esquerda.
Kassab afirmou que PSD e MDB, que somam juntos 82 deputados e estão na base do governo, devem garantir o catáter moderado do governo.
— Caberá ao Lula aproveitar esse momento (…). O Congresso espelha a sociedade, e a sociedade é de centro. Qualquer governo que não radicalize sempre terá o apoio do Congresso. E o Lula, se tiver uma linha conciliadora e moderada, principalmente na economia, terá esse apoio. Se ele não tiver essa linha, dificilmente terá apoio porque ficará apenas com os fisiológicos (…). Mas isso não vai lhe dar maioria para medidas radicais, o Congresso é moderado. Eu não tenho essa preocupação de o Lula dar uma guinada à esquerda. Estou muito tranquilo — disse.
O ex-ministro também defendeu a manutenção de marcos regulatórios como o do saneamento, e se disse contra mudanças na Lei das Estatais, proposta em gestação no Congresso para permitir mais indicações políticas nas empresas controladas pela União. Disse, ainda, ser contra a taxação de lucros e dividendos.
— Seria um suicídio o Congresso mexer nos marcos regulatórios, nas agências, rever a lei do saneamento, radicalizar em mudanças na reforma trabalhista. Aperfeiçoamento eu até entendo. São esses pilares que possibilitaram importantes investimentos no Brasil. Qualquer mudança vai trazer uma preocupação que vai levar até o capital nacional para fora. Meu partido vai estar radicalmente contra qualquer mudança nesses pilares — salientou Kassab.
Aos empresários, o presidente do PSD ainda afirmou ser “radicalmente contra a discussão” da reforma tributária sem ter clareza sobre o alcance de uma reforma administrativa.
— A reforma tributária precisa caminhar junto com a reforma administrativa. Tenho muita dificuldade de entender uma reforma tributária sem conhecermos o custo Brasil. A reforma é para definir o valor que vai ser arrecado. (…) Se nós fizermos a reforma tributária sem pensar na administrativa, ela vai ser um projeto para aumentar a carga tributária — disse aos executivo.
A jornalistas após o evento, no entanto, Kassab minimizou a declaração e disse que, embora seja a favor da discussão das duas reformas concomitantemente, é a favor da tributária.
— Defendemos a reforma tributária, somos a favor. Seria mais inteligente fazer a tributária sabendo como vai ser a administrativa ou junto com ela. (…) Se tiver de fazer, a reforma tributária é muito importante, mas será muito mais bem conduzida se você tiver encaminhamento da administrativa — disse ele.
Para o ex-ministro, “é um erro” do governo não pautar a discussão sobre a reforma administrativa, o que demonstraria que “o PT tem dificuldade” em relação ao tema.