Lula e o PT querem riscar bolsonarismo do mapa

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Foto: Sebastião Moreira/EFE

O país saberá nos próximos dias, segundo promessa do governo, o que está escrito no cartão de vacinação de Jair Bolsonaro. A CGU decidiu divulgar o documento do ex-presidente. Já ciente do que há no papel, pretende fazer um acertado ajuste de contas com a história.

Bolsonaro atacou a política de vacinação do governo, atuou a favor do negacionismo na ciência e dificultou a compra de imunizantes durante a pandemia. Se tiver tomado a vacina escondido, ficará em péssima luz diante até mesmo dos bolsonaristas que, apoiando as barbaridades do governo passado, escolheram a vacina. Será algo objetivo: ele negava a vacina enquanto estava imunizado. Se, por outro lado, não tiver tomado a vacina, consolidará a visão de coerência com a ignorância e perderá do mesmo jeito.

Levando-se em conta que papel aceita tudo e que um governo com um histórico de interferências e ações ilegítimas como o passado pode simplesmente não ter levado a sério a carteira de vacinação, o papel pode simplesmente não traduzir a verdade dos fatos. Bolsonaro pode ter tomado a vacina escondido, sem registro, e ninguém jamais saberá — salvo por alguma confissão de ex-auxiliares.

A questão, no entanto, é outra. O atual governo precisa manter Bolsonaro no noticiário. O acerto de contas com a gestão passada será permanente enquanto houver risco de um retorno do bolsonarismo ao Planalto, na próxima eleição. Lula já está em campanha para um novo mandato. Os discursos do presidente e de seus auxiliares seguem a estratégia de palanque.

A desconstrução de Bolsonaro, no entanto, tem via de mão dupla. Reforça a rejeição em quem já não vota nele, mas mantém sua figura viva no cenário presidencial, ao credenciá-lo todo dia como principal rival de Lula e do atual governo. O ex-presidente caminha para ser declarado inelegível, tamanha a lista de crimes cometidos em sua gestão.

Da negligência na pandemia ao abandono criminoso dos índios em Roraima. Do assédio golpista na caserna ao uso eleitoreiro dos cofres dos bancos públicos, como denuncia Paulo Pimenta, ao falar do consignado da Caixa, completamente liberado a usuários do Bolsa Família durante a campanha eleitoral.

Motivos para condenar Bolsonaro na Justiça Eleitoral não faltam. A conta tem que chegar para quem deve, mas o atual governo deve focar, sobretudo, em trabalhar para cumprir promessas, mostrar, com ações concretas, que é diferente da gestão passada. A briga com o Banco Central é coisa do estilo bolsonarista de criar inimigos e narrativas para justificar incompetência. A sabotagem contra Fernando Haddad, articulada por petistas influentes, também lembra o estilo bolsonarista — ainda que o petismo seja experiente nessa área.

Lula fabrica crises e insiste em ações questionáveis que só reforçam a ideia de que seu novo governo, de novo mesmo, nada tem. É velho em métodos e escolhas, como no caso da tentativa de golpe no Sebrae, para capturar o bilionário cofre da instituição. Seguindo na lógica atual, vai alimentar o bolsonarismo e o triste ciclo vicioso do qual o país parece ser refém.

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