Lula encerra bate-boca com bolsomínion do BC

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Foto: Cristiano Mariz/O Globo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quinta-feira (16) que “não cabe” ao presidente da República “ficar brigando” com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Depois de uma escalada de críticas nos últimos dias contra o presidente do BC, Lula voltou a chamar Campos Neto de “cidadão” e disse que pretende revisar a autonomia do Banco Central. Em entrevista à CNN, o presidente fez críticas ao mercado financeiro e cobrou “seriedade” e “bom senso” dos investidores.

“Não cabe ao presidente da República ficar brigando com o presidente do Banco Central”, disse Lula. “Eu até teria direito, porque ele não é presidente do BC indicado por mim, ele foi indicado pelo [ex-presidente Jair] Bolsonaro, ele foi indicado pelo [ex-ministro Paulo] Guedes, então significa que a cabeça política dele é uma cabeça muito diferente da minha e daqueles que votaram em mim. Mas ele está lá, tem um mandato.”

Lula e o PT têm criticado a condução da política monetária por parte do BC e a taxa de juros básica da economia, atualmente em 13,75% ao ano. “Estamos quase vivendo uma crise de crédito, porque não tem crédito nesse país. Somos um país capitalista sem crédito. Qual é o empresário que vai fazer investimento tendo que tomar dinheiro a 13,75% de juros? Não vai porque é maior do que a maior que a taxa de retorno que ele pode querer ganhar”, disse.

Lula repetiu que não pretende ter embates com Campos Neto. “A mim, como presidente da República, não interessa brigar com um cidadão que é presidente do Banco Central e que eu pouco o conheço. Eu o vi uma vez”, disse. Em seguida, afirmou que se o presidente do BC “topar”, poderá levá-lo para visitar os lugares mais miseráveis do país. “Ele tem que saber que a gente, nesse país, tem que governar para as pessoas que mais necessitam.”

Questionado se estaria disposto a encontrar Campos Neto para discutir, Lula passou a tarefa para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. “Se for necessário do presidente da República conversar com o presidente do Banco Central, de alguma coisa do interesse do Brasil, eu também não tenho problema nenhum para conversar com quem quer que seja”, afirmou. “Mas, se eu não posso conversar com ele sobre a taxa de juros e emprego, então sobre o que eu vou conversar? Então é importante que ele converse com Fernando Haddad, todo dia, toda hora, todo mês, todo ano, e que ele apenas cumpra a meta de inflação, tenha a noção de que a meta não pode ser a razão pela qual você é obrigado a aumentar a taxa de juros.”

Na entrevista, Lula afirmou que pretende revisar a autonomia do BC depois do mandato de Campos Neto, que termina em 31 de dezembro de 2024. “Vamos ver qual é a utilidade que a independência do Banco Central teve para esse país. Se a independência trouxe para o país uma coisa extraordinariamente positiva, então não tem problema ser independente”, disse. “Isso nunca foi para mim uma coisa de princípio. O que eu quero saber é o resultado. O resultado vai ser melhor? Um Banco Central autônomo vai ser melhor? Vai melhorar a economia? Ótimo, mas se não melhorar, temos que mudar.”

Ao longo da entrevista, Lula disse que não governa para atender aos interesses do mercado financeiro. “Esse mercado é muito frágil. Precisa ter um pouco mais de seriedade”, criticou. “Eles [investidores] deveriam ter um pouco de bom senso”, disse, afirmando em seguida que o mercado “está muito conservador”. “É preciso ter um pouco de sensibilidade social”, declarou.

O presidente confirmou o aumento do salário mínimo de R$ 1.302 para R$ 1.320 a partir de maio. “Vamos colocar o crescimento do PIB no salário mínimo todo ano”, disse. Lula confirmou também que vai elevar a faixa de isenção do Imposto de Renda para dois salários mínimos, o equivalente a R$ 2.640 mensais. Hoje a faixa de isenção é de até R$ 1.903,98. O presidente prometeu elevar a isenção para até R$ 5 mil até 2026.

Lula falou também do reajuste dado às bolsas de pesquisa, em um investimento de R$ 2,4 bilhões. O aumento será de 40% para os alunos do mestrado e doutorado, de 27% para os pós-doutorandos e de 75% para a iniciação científica e docência da Capes e do CNPq.

O presidente disse ter a intenção de emplacar a ex-presidente Dilma Rousseff para o comando do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), o chamado Banco do Brics. O nome de Dilma passou a ser cotado para o cargo depois que o governo começou a contar com uma renúncia de Marcos Troyjo, atual presidente do banco. A saída dele abrirá formalmente o caminho para Lula indicar um novo presidente brasileiro na instituição financeira sediada em Xangai (China). “Se depender de mim, ela vai [ser presidente do Banco dos Brics].”

Em uma solenidade no Palácio do Planalto, Lula da Silva criticou a dolarização dos preços dos combustíveis no Brasil, ao dizer que a Petrobras extrai petróleo “em reais” e importa gasolina e diesel “pagando em dólar”.

Valor Econômico