Moraes não quer conversa com dono do PL
Foto: Cristiano Mariz/ Agência O Globo
O presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, não desistiu de tentar convencer o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, a suavizar o bloqueio das contas do partido.
Valdemar está há algumas semanas tentando marcar uma audiência com Moraes para apresentar uma proposta que poderia liberar parte do dinheiro retido, mas ainda não conseguiu ser recebido.
Seu plano é que pelo menos os recursos próprios da legenda de Jair Bolsonaro escapem da medida e possam ser movimentados sem problemas.
De acordo com integrantes do PL, estão em jogo cerca de R$ 10 milhões de receita própria, dinheiro que vem de doações e vaquinhas, por exemplo.
Os repasses mensais do Fundo Partidário, de cerca de R$ 5 milhões, estão bloqueados até o pagamento do valor integral da multa, o que só deve ser concluído mês que vem.
O encontro também seria um aceno simbólico da legenda de Valdemar a Moraes, considerado inimigo público número 1 por Bolsonaro e extremistas.
“Essa agenda faz parte da necessidade de tirar a tensão e ficar claro que o PL não tem uma pauta contra o Judiciário”, resume um aliado de Valdemar Costa Neto ouvido reservadamente pela equipe da coluna.
Por determinação de Moraes, o PL foi multado em R$ 22,9 milhões em novembro do ano passado por litigância de má-fé, depois de ter pedido que parte dos votos do segundo turno fosse invalidado, alegando supostas irregularidades na identificação digital das urnas.
Moraes considerou que o relatório não apresentava qualquer prova ou indício de fraude. O pedido ignorou convenientemente que as urnas foram as mesmas usadas no primeiro turno, quando o próprio PL elegeu a maior bancada da Câmara, com 99 deputados.
A multa milionária (cujo valor tem o mesmo número do partido nas urnas, o 22) foi endossada por quase todo o plenário em dezembro – apenas o ministro Raul Araújo votou a favor de uma multa de valor menor.
A agenda de Valdemar com Moraes, no entanto, ainda não foi marcada – e nem tem previsão de ocorrer. A relação entre os dois ficou estremecida após o presidente nacional do PL encampar a ofensiva bolsonarista contra as urnas eletrônicas, atendendo a uma determinação de Bolsonaro.
As recentes acusações feitas pelo senador Marcos do Val (Podemos-ES) envolvendo um suposto plano para grampear Moraes e impedir a posse de Lula também contribuíram para azedar o clima de vez.
Nem sempre foi assim.
Antes do episódio, Valdemar e Moraes atuaram em dobradinha para barrar a PEC do Voto Impresso no Congresso Nacional, justamente uma das principais iniciativas de Bolsonaro para tumultuar o processo eleitoral.
À época das discussões, em julho de 2021, Moraes organizou um café da manhã, que contou com a presença de Valdemar e outros líderes partidários, para tratar dos riscos embutidos na proposta de a urna emitir uma espécie de comprovante, que ficaria depositado no próprio aparelho para verificação posterior.
Após o café da manhã, Valdemar trocou os membros do PL da comissão que cuidou da PEC do Voto Impresso, colocando parlamentares contrários à proposta no grupo.
“Ele substituiu os dois do PL e resolveu. Foi um grande parceiro da Justiça Eleitoral”, disse Moraes na ocasião.
Os tempos, agora, são outros.