Moro e Dallagnol podem migrar para partido moribundo
Partido também estuda liberar o acesso de candidatos ao fundo partidário, até então nunca usado pela sigla, que veta uso de verba pública em campanha
Após encolher nas eleições de 2022, o partido Novo busca se firmar como um polo de oposição ao governo Lula (PT) e tenta atrair parlamentares eleitos por outras siglas. De olho inicialmente em formar um “bloco suprapartidário” que se contraponha ao petismo no Congresso, o Novo também articula filiações de opositores ao presidente especialmente no Senado, onde não há exigência de janela partidária para desfiliações.
O Novo já fez convites a parlamentares ligados ao lavajatismo, como o senador Sergio Moro (União-PR) e o deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR), informação revelada pelo portal Metrópoles e confirmada pelo GLOBO com interlocutores do partido. Ambos estiveram no radar do partido antes da campanha de 2022. Na semana passada, o presidente do Novo, Eduardo Ribeiro, viajou a Brasília para a filiação do senador Eduardo Girão (Novo-CE), que deixou o Podemos e será vice-líder da oposição no Senado no bloco com PL, PP e Republicanos.
— A agenda programática do PT é diametralmente oposta à do Novo. A vinda do senador Girão manterá firme nosso posicionamento como oposição, mas também estamos conversando com outros parlamentares para formar uma articulação suprapartidária — disse Ribeiro
Além de Girão, o Novo procura atrair outros parlamentares, especialmente de Podemos e União Brasil, descontentes com a aproximação de seus partidos com o governo Lula. Dallagnol, que apoiou a candidatura de Marcel Van Hattem (Novo-RS) à presidência da Câmara, não pode trocar de partido até o início de 2026, sob risco de perda de mandato. Moro, procurado pelo GLOBO, negou ter intenção de trocar de sigla e disse, em nota, que “respeita o partido Novo, mas está firme no União Brasil”. A esposa de Moro, Rosangela, se elegeu deputada federal pelo União Brasil em São Paulo.
— Não tenho dúvida que a migração de outros parlamentares ocorrerá naturalmente. O Novo reviu suas estratégias, sem deixar de ser um partido com premissas bem definidas. E, com nosso bloco no Senado, partimos de uma posição forte — avaliou Girão.
Internamente, membros do Novo avaliam que a redução das bancadas no Congresso trouxe dificuldades de articulação e até de manutenção de quadros importantes, como o governador de Minas, Romeu Zema. O PL, partido com a maior bancada na Câmara, negocia a filiação de Zema, acenando com maior musculatura para uma possível candidatura presidencial em 2026.
Na tentativa de evitar uma debandada, o Novo também estuda liberar o acesso de candidatos ao fundo partidário, até então nunca usado pela sigla, que veta uso de verba pública em campanha. O partido também pediu a Zema para articular filiações de prefeitos em Minas, na contramão do que fez em 2020, quando alguns candidatos tiveram que se desfiliar para concorrer em municípios do interior, onde o Novo não quis lançar chapas.
Relação com Bolsonaro
Após oito deputados federais e 12 estaduais terem sido eleitos pelo Novo em sua primeira disputa, em 2018, as bancadas caíram para menos da metade em 2022. Sem bater a cláusula de barreira, a sigla perdeu acesso ao tempo de propaganda em rádio e TV. Em 2020, o partido teve desempenho tímido nas eleições municipais.
Ao longo da gestão Bolsonaro, a bancada do Novo mostrou alinhamento com o governo em votações na Câmara e, diferentemente da postura adotada agora em relação Lula, evitou se juntar à oposição. Em março de 2021, uma diretriz partidária que orientou oposição a Bolsonaro argumentou que “o bolsonarismo pode causar tanto mal quanto o petismo”.