Padilha diz que Lula defende empresários ao criticar juros

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Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

O ministro da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Alexandre Padilha (PT), negou nessa quarta-feira (8) que o governo esteja colocando em andamento um processo de fritura do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Ele ressaltou que é papel da autoridade monetária “suavizar” a flutuação econômica, fomentar o pleno emprego e garantir a estabilidade. Mas negou, contudo, que haja intenção do governo de mudar a meta de inflação, hoje de 3,25%. A alta de juros é uma estratégia do Banco Central para tentar trazer a inflação para o centro da meta. “Não estamos discutindo mudança na meta da inflação”, garantiu.

No Congresso, lideranças de partidos de base tentam se organizar para convidar Campos Neto para prestar esclarecimentos, mas esbarram na falta de unidade sobre o timing do convite e na indisposição da cúpula do Legislativo em dar novo fôlego para a crise entre a presidência e o BC.

Após participar de primeira reunião do chamado Conselho Político da Coalizão, grupo formado por presidentes de legendas e lideranças partidárias que integram a base aliada do governo, Padilha reforçou que não há nenhuma discussão no Palácio do Planalto para alterar a legislação que garante a independência do Banco Central.

“Nós reafirmamos que não existe qualquer discussão dentro do governo em termos de mudança da lei atual do Banco Central. Até porque a lei estabelece como objetivos do BC o fomento ao pleno emprego, suavizar qualquer flutuação econômica, a garantia de estabilidade econômica e o bom funcionamento e a eficiência do sistema financeiro”, disse Padilha a jornalistas.

De acordo com o titular da pasta de Relações Institucionais, ao criticar o BC, Lula está apenas verbalizando “as dores” e “preocupações” de empresários que querem tomar crédito para investir no país, mas não consegue devido a alta nos juros.

Segundo ele, os líderes partidários da base aliada também concordam com a necessidade de se discutir a redução da taxa Selic. “É um debate do país hoje, do mundo, da necessidade, da importância da redução de juros”, afirmou.

Em seguida, foi enfático ao descartar a proposta de alterar o marco legal sobre a autoridade monetária, ideia defendida por partidos aliados como o Psol. “Não existe qualquer discussão no governo de mudança na independência do BC. Ali estão os marcos que devem guiar a atuação do BC. Mas é um debate do país a necessidade da redução de juros; o Congresso Nacional pode acompanhar esse debate”, complementou.

Paralelamente, Padilha disse que o governo não está estimulando que a base convide Campos Neto para dar explicações no Congresso. De acordo com ele, o Palácio do Planalto já tem “instrumentos permanentes de diálogo com o BC”. A ida de Campos Neto ao Legislativo também é defendida por parlamentares da base governista.

Na terça-feira o vice-líder do governo no Congresso, o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) protocolou requerimento de convocação do presidente do Banco Centra para que preste esclarecimentos à Comissão de Finanças e Tributação da Câmara sobre a condução da política monetária. Mas desde a aprovação da autonomia do BC o presidente do órgão deixou de ter status de ministro e, por isso, não pode mais ser convocado.

Com uma base ainda em construção, o governo Lula teria, na avaliação de lideranças partidárias de centro, dificuldades para conseguir emplacar um convite ao chefe do BC no plenário da Casa.

Ao deixar o encontro com Lula, o presidente nacional do Solidariedade, o ex-deputado Paulinho da Força (SP), disse que o BC “não pode ser como o Vaticano, que está dentro da Itália, mas quem manda é o papa. “Não podemos ter um BC dirigido pela Faria Lima. Quem ganhou a eleição foi o Lula e o BC não pode ser da Faria Lima. Não dá para a gente aceitar uma coisa dessas”.

O líder do Solidariedade na Câmara, deputado Áureo Ribeiro (RJ), disse que a bancada não concorda com as falas do dirigente. “Cada fala dessas provoca oscilações no dólar, não é bom para o país”, disse. “Não há votos nem para convidar o presidente do Banco Central – o que inclusive o regimento não permite -, menos ainda para revogar a autonomia do Banco Central, que foi votada na legislatura passada”.

Fontes do Centrão pontuaram que um dos obstáculos para a votação de um convite a Campos Neto é o papel desempenhado por Lira de “apaziguador da República”. Ele dificilmente levaria a voto uma matéria desta natureza, em um momento de harmonia na relação com o Executivo. “Não vejo Lira disposto a pautar um requerimento que só vai gerar instabilidades”, disse um interlocutor do presidente da Casa.

Valor Econômico