Partidos bolsonaristas minguam com apoio a Lula

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Foto: Cristiano Mariz/O Globo

Apesar de ter conseguido eleger a maior bancada da Câmara nas últimas eleições à reboque da candidatura de Jair Bolsonaro, o Partido Liberal (PL) já aceitou que parte de seus deputados vai entrar para a base de Luiz Inácio Lula da Silva — e até “precificou” o tamanho do neolulismo em suas hostes.

Segundo os mapas dos líderes do PL, 25 dos 99 deputados do partido já trabalham para aderir ao governo – em troca, claro, de cargos e influência.

São congressistas sem vínculo com o bolsonarismo, que integram o chamado “PL raiz” e não estão dispostos a passar os próximos quatro anos na oposição, que é como o PL se coloca oficialmente.

Figuras como o baiano João Bacelar, que já apoiou os governos Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro — e que em uma reunião recente da bancada disse que não podia ficar na oposição, porque nem sabia como era isso. Nunca ficou contra nenhum governo.

Bacelar e seus colegas têm trajetórias semelhantes às do próprio Valdemar da Costa Neto, que pela primeira vez não faz parte do bloco governista.

Conhecendo bem seus deputados, Valdemar sabe que pode acabar ficando sem eles os pressione para bater de frente com Lula.

Por isso, já definiu a estratégia para manter o grupo sob sua influência sem melindrar a extrema-direita: liberar a bancada para votar como preferir em quase todos os assuntos e não punir ninguém por ficar ao lado do governo.

Para explicar o insólito fenômeno, o dirigente do PL tem usado como eufemismo a máxima de que o partido “não fará oposição radical” e “apoiará o que for de interesse para o país”.

“Nós temos alguns deputados, uns 20 a 30, que dependem muito do governo federal. Você pega essas regiões, Maranhão e tudo, esse pessoal não tem dinheiro para nada. Dependem muito do governo federal. E esse pessoal pode ter um entendimento melhor (sobre votar com o governo)”, declarou Costa o presidente do PL à CNN Brasil no último dia 27. “Nós aconselhamos eles a não ter cargo, mas a conseguir as coisas do governo sem ter cargo”, desconversou.

A menção de Valdemar ao Maranhão não é por acaso. O grupo que flerta com Lula é majoritariamente do Nordeste, onde o petista venceu Bolsonaro com larga vantagem, a despeito do intenso uso da máquina pública, ampliando a concessão do Auxílio Brasil e outros benefícios às vésperas da eleição.

Além disso, cabos eleitorais de Bolsonaro que tinham algum favoritismo no início da corrida foram derrotados já no primeiro turno, como Capitão Wagner (União-CE) e Silvio Mendes (União-PI), para candidatos petistas. Diversos prefeitos e parlamentares do PL na região pediram voto para Lula, sem punição.

Na prática, o que Valdemar busca evitar é que o partido se desidrate em uma futura janela partidária.

Mais do que isso, a cúpula da legenda trabalha para mediar os interesses divergentes dentro da própria bancada para evitar uma debandada.

Além do abalo imediato, movimentos dessa natureza renderiam mais uma dor de cabeça para o partido após Valdemar ser obrigado a depor à Polícia Federal no âmbito dos atos do 8 de janeiro e ter seu principal filiado, Jair Bolsonaro, sob a mira constante da Justiça.

A saída pacificadora funciona por ora, mas a avaliação dos bolsonaristas do PL é de que o conflito será apenas adiado. A permanência deste bloco no partido na próxima eleição dependerá diretamente do papel do ex-presidente Bolsonaro nas articulações de 2026.

O Globo