Partidos de Lula e Bolsonaro se unem nos Estados

Destaque, Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Edilson Dantas

A aliança entre PT e PL em torno da candidatura de Arthur Lira (PP-AL) ao comando da Câmara dos Deputados está longe de ser uma exceção. A dobradinha das legendas de Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro também se repete nas eleições para o comando das assembleias legislativas em estados como São Paulo, Minas, Pernambuco e Rio Grande do Sul.

O pragmatismo ficou claro num jantar pró-Lira na semana passada, em Brasília. Nele, estavam lado a lado a deputada federal Maria do Rosário (RS) e representantes do bolsonarismo, entre eles Eduardo Bolsonaro (SP) e Nikolas Ferreira (MG), ambos do PL.

Cena semelhante se vê na esfera estadual. Na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), o PT vai apoiar André do Prado (PL) para o comando da casa. Os dois partidos são donos das maiores bancadas: o primeiro elegeu 18 deputados, e o segundo, 19. A costura entre as siglas estava estabelecida desde o fim do ano passado. Recentemente, a aliança ganhou a benção do governador Tarcísio de Freitas, que num primeiro momento resistiu a um acordo com o PT, mas acabou convencido pelo seu secretário de Governo, Gilberto Kassab.

Do Prado é aliado de Valdemar Costa Neto, chefe do PL, e, apesar de estar no partido de Bolsonaro, é visto pela esquerda como alguém com quem é possível ter bom trânsito. Moderado, sinalizou que não deve priorizar pautas da bancada bolsonarista. O acordo firmado prevê que o PT fique com a 1ª Secretaria da Mesa.

— Não é uma questão de apoiar. Nós, deputados (do PT), temos direito de participar da Mesa Diretora e de compor uma chapa. Provavelmente será o André (do Prado), que tem o apoio do governador, mas pode surgir outro nome — diz Márcia Lia, líder do PT na Alesp.

Já em Minas Gerais, a união das legendas rivais ajudou na vitória do deputado Tadeu Leite (MDB) para a presidência do legislativo, com votos de 75 de um total de 77 deputados. O arranjo impôs uma derrota ao governador Romeu Zema (Novo), que defendia o nome de Roberto Andrade (Avante), líder do governo. O favoritismo de Leite fez Zema desistir.

Parlamentares do PT e do PL se mostraram constrangidos com a aliança. O partido de Bolsonaro até cogitou lançar Antonio Carlos Arantes para a presidência da assembleia legislativa do estado, mas o nome não emplacou. Para não correr o risco de ficar sem cargos na Mesa Diretora, a legenda se juntou à oposição num último momento.

— Não tem nada de guerra entre PT e PL no estado. Formamos a aliança, não só com o PT, mas com o MDB e outros partidos, porque optamos pelo melhor candidato — afirma Gustavo Santana, líder do PL na Casa, que admite o mal-estar com Zema. — Está superado. Eu sou da base desde o primeiro mandato. Mas defendo que o Parlamento tenha independência para escolher seu candidato, sem interferência do governador.

Mesmo em regiões onde a presença da direita é mais forte também houve acordos entre PT e PL. Em Mato Grosso do Sul, as siglas estavam lado a lado na eleição, ontem, de Gerson Claro (PP), nome indicado pela senadora eleita Tereza Cristina (PP), para a presidência da assembleia. Em troca, o PT ficou com a 2ª secretaria.

No Rio, o cenário ainda é incerto na disputa pelo comando da Alerj, onde a divisão da direita fez com que os votos da esquerda fossem disputados um a um na eleição à presidência. Correligionários do PL, Rodrigo Bacellar e Jair Bittencourt tentam conquistar votos da federação do PT e do PCdoB, além de outras forças de esquerda como PSOL, cujo apoio pode ser decisivo.

Em alguns casos, as alianças entre ideologias opostas podem se dar também por conveniências em articulações regionais que acabam por se sobrepor ao quadro nacional. Em Pernambuco, o deputado Álvaro Porto (PSDB), que tradicionalmente era um adversário da esquerda, mas construiu uma chapa que não só uniu PT e PL, como também congregou um total de 11 partidos que elegeram parlamentares para esta legislatura — a única exceção foi o PSOL. Candidato da governadora Raquel Lyra, Porto aproveitou o vácuo de poder após a eleição a deputado federal do ex-presidente Eriberto Medeiros (PP) e a divisão do PSB, maior bancada com 13 deputados, para se lançar como o nome de consenso.

Outro exemplo é o Rio Grande do Sul. Lá, há uma tradição que já existe por quase cinco legislaturas e um acordo segundo o qual as maiores bancadas — PT (11 deputados), PP (7), MDB (6) e Republicanos, PP e PL (5 cada) — indicam os presidentes, em sistema de rodízio. Com isso, os mandatos, que são de dois anos, são reduzidos à metade. Na terça-feira, a casa elegeu como presidente o deputado Vilmar Zanchin (MDB). Pelo acordo, o PP ficará com a presidência em 2024, o PT em 2025 e Republicanos em 2026.

O Globo