Planejamento de grampear Moraes durou 8 dias
Foto: Arte O Globo
As conversas com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) relatadas pelo senador Marcos do Val (Podemos-ES) ao longo desta quinta-feira dão conta de uma trama conspiratória com o objetivo de anular as eleições de 2022, que deram a vitória ao petista Luiz Inácio Lula da Silva. Entenda abaixo os detalhes sobre os oito dias de negociações denunciados, que envolvem trocas de mensagens, encontros sigilosos e planos para realizar gravações clandestinas:
No dia 7 de dezembro, Daniel Silveira procurou Marcos do Val durante uma sessão do Congresso. Silveira entrega um telefone celular ao senador e o avisa que o presidente Bolsonaro desejava falar com ele.
Na ligação, Bolsonaro falou ao senador do Podemos que precisava resolver uma questão com ele. O presidente pediu a do Val que o visitasse no Alvorada.
O encontro com Bolsonaro foi agendado para o dia 9. Dado o histórico de Silveira, investigado em um inquérito sigiloso presidido por Alexandre de Moraes, Marcos do Val achou prudente alertar o ministro da reunião. Ele disse ter sido aconselhado pelo ministro a ouvir o que o ex-presidente queria dizer.
— Ele disse ‘vai, porque quanto mais informação, melhor’ — contou o senador à imprensa, posteriormente, após as revelações da Veja.
Uma operação foi montada para levar o senador até o presidente sem chamar atenção. Silveira passou uma localização via GPS onde Marcos do Val deveria encontrá-lo. Tratava-se de um ponto próximo ao Palácio do Jaburu, na via que dá acesso ao Alvorada.
— Ele (Silveira) dique deram a vitória ao petista Luiz Inácio Lula da Silva.sse: vamos nos encontrar no meio do caminho, que é importante você não entrar no seu carro oficial.
Do Val chega ao local de carro e encontra Daniel Silveira. Ambos entram, então, em um veículo da segurança da Presidência, que os leva até a residência oficial da presidência. Em uma das versões apresentadas por do Val na quinta-feira, a reunião aconteceu na Granja do Torto.
Marcos do Val e Daniel Silveira foram recebidos por Bolsonaro, que estava de bermuda e chinelos. Segundo o senador, em entrevista à Globo News, a conversa teve início pelo tema dos acampamentos em portas de quartéis, e Bolsonaro disse que não iria se envolver no assunto por temer ser responsabilizado. Segundo do Val, de início, ele imaginava ser esse o tema do encontro.
Ao longo da quinta-feira, diferentes variações do que ocorreu em seguida foram apresentadas pelo senador em lives e em entrevistas. Em todas elas, é Silveira que introduz a ideia do plano de gravar uma conversa com o ministro do STF.
— Eles colocariam um equipamento de gravação. Teria um veículo já próximo ao STF, captando o áudio. E eu, nessa reunião com o ministro Alexandre, eu conduzindo para ele falar que, em alguns dos processos dele, ele ultrapassou a linha da Constituição — detalhou Marcos do Val, em entrevista coletiva.
No entanto, há divergências entre os relatos. Na versão contada em uma live na madrugada, Marcos do Val disse que Bolsonaro tentou coagir ele. Já na publicada pela revista Veja, o senador diz que o presidente afirmou que o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) iria prestar apoio técnico ao plano.
Posteriormente, à Globo News, do Val disse que Bolsonaro permaneceu calado durante todo o encontro e que a afirmação quanto à participação do GSI veio de Silveira. Mais tarde, em outra entrevista ao canal, o senador acrescentou outro detalhe. Bolsonaro, ao fim da conversa, teria dito que aguardava a resposta do senador.
Após deixar a reunião com Bolsonaro, o senador enviou uma mensagem ao ministro Alexandre, na qual afirmava precisar falar com ele sobre um assunto sensível.
Uma audiência com o ministro foi marcada para o dia 14 de dezembro, e o encontro aconteceu no salão do branco do STF. Segundo o relato do senador à Globo News, ele deu ao ministro detalhes do encontro com o presidente:
— Até estava achando que era uma questão do acampamento, mas era para gravar o senhor — teria dito ao ministro.
Ainda de acordo com o relato de do Val, ele foi em seguida liberado pelo ministro, que não fez nenhum pedido a ele.
Ao deixar o Supremo Tribunal Federal, Marcos do Val envia uma mensagem a Silveira, na qual afirma ter optado por não se envolver no plano. “Irmão, vou declinar da missão”, escreveu.