PT aumenta pressão contra presidente do BC

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Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), afirmou que o partido defende a revisão da meta de inflação a ser perseguida pela Banco Central, atualmente em 3,25% para este ano, e voltou a criticar o presidente Roberto Campos Neto, horas após o presidente da autoridade monetária fazer pronunciamento no qual fez acenos ao governo Lula em busca de diálogo.

“A meta de inflação é inexequível. 3,25%, 3%, nenhum país do mundo tem inflação desta. Aliás, a maioria tem inflação maior do que o Brasil e juros negativos”, disse nesta terça-feira, após participar de ato com deputados do PT, Psol, Avante e PCdoB contra a taxa de juros.

Gleisi disse que o partido não debateu qual deve ser a nova meta e que não sabe se existe consenso, dentro do governo, para que isso ocorra. O Conselho Monetário Nacional (CMN) terá reunião na quinta-feira. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, informou que a discussão sobre a meta não está na pauta do encontro.

Antes do ato na Câmara, Gleisi reforço críticas que têm feito a Campos Neto por discordar da política monetária. Em sua conta no Twitter, ela afirmou que, ao conceder entrevista ao programa “Roda Viva”, da TV Cultura, o presidente do BC deixou de “explicar o básico” sobre os motivos para os juros altos no Brasil

Na entrevista, Campos Neto disse disposto a explicar a Lula a razão para a taxa praticada e se disse contra rever a meta de inflação. Por mais de uma vez, Campos Neto disse reconhecer os esforços de Haddad em ajustar a política fiscal.

Para Gleisi, no entanto, faltou a Campos Neto explicar as razões do BC para manter os juros atuais. “Campos Neto tentou mas não explicou o básico no Roda Viva. Por que o juro real no Brasil é mais do que o dobro da segunda maior taxa do mundo? E qual o risco fiscal a termos [sic]. Mesmo autônomo, o BC não pode estar desconectado da realidade brasileira e do projeto eleito pelo povo”, escreveu a petista na rede social.

Também nesta terça, o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), um dos parlamentares mais ativos no partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, disse que o PT não pretende diminuir a pressão sobre Campos Neto, mesmo com o tom conciliador adotado pelo dirigente em suas últimas entrevistas. Para ele, o atual patamar da Selic poderá provocar recessão e colocar o governo em uma crise política.

“Não dá para a gente aceitar crescer 0,79% este ano. Isso é o que nos angustia, a angústia do Lula é essa. Isso aqui é estagnação econômica. Se este cenário se concretiza no final do ano, a gente tem sensação de mal estar, de crise política”, afirmou Farias.

Questionado se o partido manterá a pressão, ele complementou: “Claro, isso aqui é uma loucura para a gente. É como se o presidente estivesse com uma faca no pescoço”.

Para o deputado, o PT não está isolado na discussão sobre a alta de juros.

“Não é discussão sobre autonomia [do BC], mas sobre um cenário de estagnação com a maior taxa de juros do mundo, com crise das Americanas, restrição de crédito. Não acho que estamos isolados, desde que o Lula levantou a discussão, muita gente começou a se questionar”, disse, citando declarações recentes do economista André Lara Resende.

Farias reforçou que o partido irá pedir a convocação de Campos Neto assim que o Congresso finalizar a formação das comissões. O parlamentar interpreta que, por ter status de ministro, o presidente do BC poderia ser convocado.

O entendimento da Secretaria-Geral da Mesa Diretora da Câmara, contudo, é de que ele só pode ser convidado. A lei que confere autonomia ao BC estipula que ele deve comparecer uma vez por semestre ao Senado para apresentar, em arguição pública, os relatórios de inflação e de estabilidade financeira, “explicando as decisões tomadas no semestre anterior”. Os efeitos, portanto, seriam mais políticos do que práticos.

Valor Econômico