Vereadores de SC dizem que gesto nazista é “saudação cristã”
Foto: Divulgação/Câmara de Vereadores de São Miguel do Oeste
A agora ex-vereadora de São Miguel do Oeste, Maria Tereza Capra (PT), teve seu mandato cassado na sexta-feira, 3, sob alegação de quebra de decoro parlamentar. O caso começou quando a parlamentar publicou um vídeo em suas redes sociais com a denúncia de uma manifestação de vários participantes com suposto gesto nazista durante protesto golpista em frente ao 14º Regimento de Cavalaria Mecanizado, base do Exército no município, no dia 2 de novembro.
O processo instaurado na Comissão de Inquérito Parlamentar da Câmara para investigar o caso foi classificado como perseguição política pelo advogado de defesa de Capra, Sérgio Graziano. “Não há qualquer fato jurídico, político ou social que justifique a cassação. Em 31 anos do exercício da advocacia nunca vi tamanha injustiça”, afirmou. Ele lembrou ainda que não é comum que as pessoas ergam os braços durante a execução do Hino Nacional e que nem mesmo os membros das forças armadas têm esse ritual.
Entretanto, segundo a alegação da acusação contra Capra, a conclusão final foi que a parlamentar teria propagado notícias falsas e atribuído aos cidadãos de São Miguel do Oeste o crime de saudar o nazismo e de ser berço de uma célula neonazista. No final, o placar ficou com 10 votos a favor da cassação e apenas um contra, o da própria vereadora.
Após denunciar o caso, Capra informou que recebeu uma série de ameaças. “Meu carro foi riscado, desenharam uma menina com um ‘x’ por cima, uma clara referência a eliminação”, disse. Os acontecimentos fizeram com que a parlamentar se autoexilasse por 40 dias.
Como mostrou o Estadão, algumas horas antes da votação na Câmara, ela recebeu um e-mail com explícita ameaça de morte. O texto afirma que a cassação de seu mandato era só o primeiro passo, “Vou cassar sua vida”, diz a mensagem. Outras duas parlamentares de legislativos municipais do Estado também foram alvo de ataques de morte e de racismo pela internet.
Segundo a parlamentar, o gesto nazista ocorreu em outros momentos na cidade e, na avaliação dela, seria uma forma de naturalizar algo que “não pode ser natural”. Ela cita o evento de inauguração da Casa de Apoio de São Miguel Do Oeste em dezembro de 2022. “Eles estenderam o braço novamente. Dizem que é uma espécie de benção cristã, mas é notório que muitos dos que estavam presentes ficaram constrangidos, pois são duas coisas diferentes”, afirmou a vereadora cassada.
Procurada, a prefeitura de São Miguel do Oeste afirmou em nota da assessoria de imprensa que o gesto realizado durante a inauguração da Casa de Apoio foi uma “benção religiosa conduzida por uma ministra da Igreja Católica”, considerada “comum na região”. O mesmo argumento foi citado pelo presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito, Carlos Agostini (MDB), durante sessão. “A ministra pediu para fazer o gesto, que é comum na nossa região, como forma de emanar energias positivas à casa”, afirmou o parlamentar. Segundo ele, “não existem nazistas na cidade”. E completou: “É preciso neutralizar o discurso de ódio”.