Advogados disputam defesa de Bolsonaro

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Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo

O agravamento da crise provocada pelo escândalo das joias de R$ 16,5 milhões apreendidas pela Receita Federal — que seriam “presente” do governo da Arábia Saudita para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro – levou integrantes do PL a procurarem nesta terça-feira (7) o advogado Marcelo Bessa para traçar uma estratégia de defesa para o ex-presidente Jair Bolsonaro e sua família.

Apesar do tumulto em torno do caso nos últimos dias, até agora o PL ainda não havia decidido contratar um advogado para o ex-presidente.

Embora o advogado Frederico Wassef tenha divulgado uma nota pública em defesa de Bolsonaro no final da noite, não há uma definição a esse respeito no entorno do ex-presidente.

A conversa de Bessa foi com integrantes da ala bolsonarista do partido. Eles avaliam que a crise está fazendo seu capital político derreter, à medida que ele perde o controle da narrativa do caso nas redes sociais e no noticiário.

Interlocutores de Bolsonaro ouvidos reservadamente pela equipe da coluna temem que o desdobramento das investigações agrave ainda mais o estrago do episódio sobre a imagem do presidente, que já é considerável.

Apesar da complexidade do caso, já há uma disputa para defender Bolsonaro.

Ao divulgar a nota afirmando que as joias eram “itens personalíssimos” do presidente, Wassef entrou na fila.

Foi o mesmo argumento disseminado no início da tarde pelo ajudante-de-ordens do ex-presidente, o coronel Mauro Cid, segundo quem um segundo estojo de presentes enviado pela Arábia Saudita, contendo relógios e jóias, está guardado no acervo pessoal de Bolsonaro.

É uma tese arriscada, já que pelo entendimento do Tribunal de Contas da União (TCU), os itens personalíssimos são bens de caráter pessoal como medalhas concedidas por outros governos, e aqueles de uso pessoal, como gravatas, camisetas e bonés. Ou seja, nada próximo do valor das joias de R$ 16,5 milhões.

Segundo dois interlocutores de Bolsonaro ouvidos reservadamente pela equipe da coluna, Wassef recebeu autorização do clã Bolsonaro para se manifestar e divulgar a nota em defesa do ex-presidente.

“Estão tirando certas informações de contexto gerando mal entendido e confusão para o público. Buscam hoje, a qualquer custo, criar diversas narrativas que não correspondem à verdade, em verdadeira perseguição política ao Presidente Bolsonaro”, escreveu Wassef.

Wasseff já advogou para Bolsonaro no processo em que ele foi acusado de manter uma funcionária fantasma em seu gabinete de deputado federal, a Wal do Açaí, e também no caso das rachadinhas.

Já Marcelo Bessa atua em ao menos 17 processos relacionados a Bolsonaro, entre eles ações mais sensíveis que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF), como os inquéritos das fake news, das milícias digitais e a investigação dos atos golpistas de 8 de janeiro. As três estão com o ministro Alexandre de Moraes.

Também foi Bessa quem entrou com a ação, em nome do Partido Liberal, pedindo a anulação de parte dos votos no segundo turno das eleições, atendendo a um desejo de Bolsonaro para reverter a derrota nas urnas.

A ofensiva foi duramente rechaçada por Moraes, que também é presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e levou à aplicação de uma multa de R$ 22,9 milhões contra a legenda por litigância de má-fé, o que abalou o funcionamento e o pagamento do salário de funcionários do PL por meses.

Bessa não deu certeza aos membros do PL sobre assumir ou não o caso. Quer, primeiro, conversar com o próprio ex-presidente, para entender melhor as acusações e acertar os termos do trabalho.

Conforme informou a coluna, Michelle Bolsonaro passou a última segunda-feira fechada na sede do PL, em Brasília, debatendo com os militares e outros aliados do marido a melhor forma de reagir aos últimos acontecimentos.

De acordo com interlocutores de Michelle, uma das ideias discutidas a portas fechadas foi a possibilidade de ela dar entrevista a um veículo de imprensa para marcar posição.

As poucas lideranças do PL sondadas a respeito foram contra, diante da avaliação de que qualquer atitude mais enfática poderia colocar no colo da ex-primeira dama uma crise que, por enquanto, ainda é mais ligada ao próprio Bolsonaro.

O Globo