Alckmin põe militares onde são necessários: na defesa
Foto: CARL DE SOUZA / AFP
O vice-presidente Geraldo Alckmin iniciou nesta quarta-feira uma série de reuniões com os comandantes das Forças Armadas para que Exército, Marinha e Aeronáutica apresentem suas prioridades para a construção de uma política pública de fomento da indústria de defesa no Brasil. Pela manhã, Alckmin recebeu o comandante do Exército, Tómas Miguel Ribeiro Paiva, e o chefe do Estado-Maior do Exército, General Valério Stumpf.
Em uma hora de conversa, os generais apresentaram, alguns dos seus projetos prioritários, entre os quais o Astros 2020, um sistema de lançadores múltiplos de mísseis. Também apontaram gargalos do setor e quais armamentos que o Exército compra no mercado interno e externo. Na quinta-feira, o comando da Aeronáutica será recebido, e, nos próximos dias, o da Marinha.
O Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), comandado por Alckmin, tem solicitado aos militares que apresentem demandas em que políticas públicas voltada ao setor trariam mais resultado para a base da indústria militar brasileira. Um dos objetivos é reforçar a cadeia de suprimento nacional das Forças, robustecendo a indústria para atender às demandas de equipamentos da caserna.
Durante a conversa, Alckmin buscou entender, por exemplo, quais itens o Exército tem comprado da indústria nacional e quais tem importado do exterior. Integrantes do encontro ouvidos pelo GLOBO afirmam que os militares defenderam a importância do fortalecimento da indústria de Defesa e demonstraram concordar com a política adotada pelo governo. Alckmin, por sua vez, reconheceu o conhecimento técnico dos generais e a complexidade tecnológica que o setor demanda.
Em janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou a Alckmin a tarefa comandar coordenar um programa de revitalização da indústria da Defesa no Brasil, junto com o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro. Intensificar o protagonismo voltado a este tema é alternativa que o governo encontrou para tentar diminuir a tensão entre o Palácio do Planalto e os militares, agravada após os atos golpistas de 8 de janeiro.
Com o objetivo de potencializar a reindustrialização do país, o ministério comandado por Alckmin tem colhido demandas de diversos setores — o da Defesa é um deles — para estabelecer prioridades para cada área e anunciar as primeiras medidas de investimento e estímulo para a indústria. Parte delas deverá estar em um conjunto propostas que será apresentado nos cem dias de governo.
Os gestos de Alckmin em direção aos militares ocorrem ao mesmo tempo em que Múcio, em conjunto com os comandantes das três Forças, se movimenta para distensionar a relação com o Palácio do Planalto e despolitizar as Forças Armadas. Na avaliação de integrantes do Ministério da Defesa, o processo é complexo e dependerá de uma construção em etapas, que demandará esforços de ambos os lados.
Na quarta-feira, Lula foi almoçar com almirantes da Marinha e ouviu demandas da Força. A agenda foi vista como mais um passo no processo de aproximação. No mesmo dia, militares da Marinha receberam comunicado dando 90 dias para que militares da ativa se desfiliem de partidos políticos, sob pena de punição. A Constituição proíbe que militares da ativa sejam vinculados às siglas.