Aliados preveem encrenca forte para Bolsonaro
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Março começou mal para Jair Bolsonaro, com o brilho dos diamantes vindos da Arábia Saudita ofuscando tudo o que ele planejara. Correligionários do ex-presidente acreditam que novos fatos devem surgir nos próximos dias e, tornados públicos pelos diversos órgãos de controle que tentam elucidá-los, virarão ouro nas mãos dos seus adversários políticos.
A ideia original de Bolsonaro era observar as dificuldades iniciais do governo Lula 3 lá dos Estados Unidos, onde está confortavelmente expatriado desde o fim do ano passado, e só retornar ao Brasil em meados deste mês. Com o governo em dificuldades para pegar tração e o Congresso em marcha lenta, teria, em tese, um espaço considerável para consolidar-se como líder da oposição.
Aliados preveem agravamento do escândalo das joias Os primeiros cem dias da atual gestão mostravam que a aposta poderia, sim, ser bem-sucedida. Adicionalmente, as turbulências políticas enfrentadas nas asas da FAB pelo ministro das Comunicações, Juscelino Filho, animaram ainda mais os bolsonaristas. Surgia, afinal, uma possibilidade de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ter uma baixa na Esplanada dos Ministérios já no primeiro trimestre de mandato: todas as palavras de ordem sobre malfeitorias nas administrações petistas empregadas durante a campanha seriam recicladas, o governo poderia ter mais dificuldades no processo de construção de uma base de sustentação no Congresso e a popularidade do Executivo sofreria, inevitavelmente, seu primeiro grande baque.
Mas o plano ruiu. Não que Lula esteja livre de preocupações. Ele tem sido alertado, inclusive, a não baixar a guarda em casos que possam render desgastes para o Palácio do Planalto. A situação do ministro das Comunicações é apenas um deles. Nessa segunda-feira (6), a Juscelino Filho foi dito de forma bem objetiva que ele precisa aplacar qualquer dúvida sobre a sua reputação na sociedade e, também, entre os agentes dos setores com os quais a pasta interage. Nas palavras do próprio presidente Lula, “provar sua inocência”.
O Palácio do Planalto monitora se a crise envolvendo o titular das Comunicações terá novos desdobramentos. Por ora, contudo, o indicado pelo União Brasil ganhou uma sobrevida. Em outra frente, há quem advogue que o Palácio do Planalto abandone logo a ideia de converter parte das dívidas de empreiteiras, firmadas nos acordos de leniência, em prestação de serviços para concluir obras paralisadas. A proposta circulou no Tribunal de Contas da União (TCU) e no Judiciário, tendo também boa receptividade por uma parte dos auxiliares diretos de Lula.
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, por exemplo, citou-a em entrevista exclusiva ao Valor no início do ano. Porém, o governo tenta calcular qual é, de fato, o valor que pode ser revertido em benefício da sociedade. Acredita-se que a cifra não seja grande o suficiente para ajudar a aquecer a economia nem fundamental para as finanças das companhias potencialmente interessadas, ou seja, para assegurar que essas empresas mantenham-se vivas, empregando e investindo. Por outro lado, a ideia pode colocar sobre a mesa do presidente da República um tema envolvendo empresas que reconheceram a prática de atos irregulares – inclusive durante a Operação Lava-Jato.
É algo visto como desnecessário por alguns governistas, os quais argumentam que a oposição não demoraria a explorar o tema politicamente. O custo-benefício da ideia está sob análise. Bolsonaro, contudo, tem problemas mais urgentes a lidar. As postagens de familiares falando sobre um possível retorno na semana que vem são vistas por aliados como cortina de fumaça, mais uma estratégia para manter a militância bolsonarista pronta para o embate.
Mesmo que virtualmente, até porque os preparativos para seu retorno presencial às atividades políticas no Brasil já estavam sendo realizados. O PL vinha reformando uma ampla sala para que Bolsonaro pudesse começar a despachar na sede da sigla. Uma preocupação era a substituição de uma vistosa mesa vermelha usada anteriormente naquelas dependências.
Nada que causasse estranheza, até porque a bandeira antiga do PL continha vermelho e azul antes de reproduzir as cores nacionais. Mas a reforma estava em dia: nem a mesa da recepcionista do ex-mandatário poderia ser vermelha. Jamais.
O mesmo tratamento estava sendo dispensado à ex-primeira-dama. Recém-eleita presidente do PL Mulher, Michelle Bolsonaro iniciaria uma agenda de viagens pelo país, onde tentaria atrair o eleitorado feminino para o partido. O casal era uma aposta para aumentar a capilaridade da legenda nas eleições municipais, já visando o pleito de 2026 e o que se convencionou a chamar de “semana da mulher”.
O cenário mudou quando o jornal “O Estado de S. Paulo” revelou que uma comitiva do governo Bolsonaro tentou entrar no país com um estojo da marca suíça Chopard, contendo um colar, um par de brincos, relógio e anel estimados em € 3 milhões (R$ 11,5 milhões). Essas peças, supostamente destinadas à ex-primeira-dama, foram apreendidas pela Receita Federal. Um segundo pacote ainda não foi encontrado. Também segundo o jornal, teria sido entregue ao próprio Bolsonaro. Carregava um relógio com pulseira em couro, um par de abotoaduras, caneta, anel e um rosário árabe. Bolsonaro fez de tudo para recuperar o material apreendido. Enviou emissários a São Paulo com esse objetivo dias antes de partir para os Estados Unidos, no fim do ano passado.
Até agora não explicou a correligionários o que aconteceu, e estes, sempre sob a condição de anonimato, suspeitam que a fortuna seria incorporada ao patrimônio da família fora do Brasil. Eles questionam, além disso, o que teria justificado tamanho regalo. Enquanto estes e outros detalhes não forem esclarecidos, não há muita disposição entre os antigos aliados de Bolsonaro para a organização de um movimento em sua defesa.