Bolsonaro acha que joias são dele
O ex-presidente Jair Bolsonaro durante evento conservador nos Estados Unidos – Chandan Khanna-14 mar. 23/AFP
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta quinta-feira (30) que recebeu presentes de elevado valor da Arábia Saudita por causa de sua relação de amizade que construiu com o mundo árabe. E ainda completou afirmando que “eles têm dinheiro, pô”
“Agora [são] joias caras? Sim, caríssimas, até pela relação de amizade que eu tive com o mundo árabe”, afirmou o ex-mandatário, em entrevista à rádio Jovem Pan.
O ex-presidente reconheceu pela primeira vez que as joias vindas da Arábia Saudita eram para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e que ele tentou reavê-las. No entanto, ressalta que “não foi na mão grande”.
“Entregamos ali o primeiro conjunto que chegou na Presidência. Cadastrei. E, tentando recuperar o outro conjunto da Michelle, foi via ofício, não foi na mão grande. Não sei porque essa onda toda. Se estão achando isso como algo que eu fiz errado eu fico até feliz, não tem do que me acusar”, afirmou.
Questionado na sequência sobre qual motivo para os árabes darem um presente de R$ 16 milhões, Bolsonaro disse que “eles têm dinheiro” e que é um “prazer deles” presentear.
“A rainha da Inglaterra, ela já é falecida, ganhou de R$ 50 milhões. Eles têm dinheiro, pô. É o prazer deles dar esse presente”, disse Bolsonaro.
“Esse xeque lá, ele me convidou, fui na casa dele… Fiquei na casa dele. Tem coisa que nós não temos, três esposas, por exemplo”, continuou, sob risadas.
Bolsonaro disse ainda que a riqueza deles não é só advinda do petróleo, como também de comércio, turismo e tecnologia.
“São riquíssimas [cidades dos Emirados Árabes] e procuram agradar as pessoas. Eu sou um cara que continuo com meu relojinho aqui, graças a Deus, continuo com ele”.
O ex-presidente desembarcou em Brasília na manhã desta quinta-feira (30) após uma temporada de 89 dias nos Estados Unidos. Do aeroporto, ele seguiu direto para a sede do PL onde encontrou correligionários e cumprimentou apoiadores.
Bolsonaro se defendeu da acusação de que teria se apropriado dos presentes oficiais, argumentando que todos já estavam cadastrados pela presidência da República.
“Quem classifica se é acervo pessoal ou público não sou eu. Tem um pessoal na presidência da República, são servidores de carreira que classificam. E na lei fala que eu posso até usar, não posso vender. Mas, como criou-se o problema, estou à disposição. E o TCU [Tribunal de Contas da União] disse por liminar que eu poderia ter a posse dessas joias. Depois foi julgada essa liminar na frente, ela caiu. Qual a decisão final? As joias foram entregues para a Caixa Econômica Federal e as duas joias foram entregues para a Polícia Federal”, afirmou o ex-presidente.
O ex-presidente depois afirmou que só ficou chateado por precisar devolver o “HK”, o fuzil que recebeu de presente, argumentando que é apaixonado por armas.
Outro estojo com joias enviado ao Brasil pelo governo da Arábia Saudita em outubro de 2021
Um segundo estojo com joias enviado ao Brasil pelo governo da Arábia Saudita em outubro de 2021 e incorporado ao acervo pessoal de Bolsonaro – Reprodução
O retorno de Bolsonaro ao país acontece em meio à polêmica das joias vindas da Arábia Saudita, caso que vem provocando desgaste à imagem do ex-presidente, que também pode ser responsabilizado judicialmente.
Nesta quarta-feira (29), o ex-presidente e seu ex-ajudante de ordens, tenente-coronel Mauro Cid, foram intimados pela Polícia Federal a depor sobre o caso. Os depoimentos foram marcados para o dia 5 de abril.
Por meio de seus advogados, Bolsonaro entregou na sexta-feira (24) à Caixa Econômica Federal em Brasília parte das joias que recebeu de presente da Arábia Saudita em 2021. O kit inclui relógio, caneta, abotoaduras, anel e um tipo de rosário, todos da marca suíça de diamantes Chopard.
No mesmo dia, um kit de armas foi entregue à Polícia Federal, também por determinação do TCU.
O tribunal ainda determinou que o conjunto de joias e relógio avaliado em R$ 16,5 milhões que seria para a ex-primeira-dama, retido pela Receita no aeroporto de Guarulhos (SP) em 2021, também seja enviado à Caixa.