Bolsonaro enfrentará situação adversa em retorno ao país
Foto: Evelyn Hockstein/Reuters
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deve retornar amanhã (30) ao Brasil, após três meses nos EUA. Ao desembarcar em Brasília, o capitão reformado irá encontrar um cenário com muitas implicações políticas, julgamentos no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que podem levar à sua cassação e até investigações que podem atingi-lo, como no caso das joias e dos atos golpistas de 8 de janeiro.
A entrada de joias da Arábia Saudita no país implica o ex-presidente. O caso está sendo investigado pela Polícia Federal, pelo Ministério Público Federal e pelo Senado.
Bolsonaro pode ser convidado a depor para relatar os detalhes de sua versão da história.
Ontem, foi revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo que Bolsonaro recebeu pessoalmente um estojo que contém um relógio Rolex, abotoaduras, anel, caneta e um masbaha (rosário islâmico) quando esteve em Doha, entre 28 e 30 de outubro de 2019. Seria um terceiro pacote de joias.
Bolsonaro precisou devolver outro conjunto de joias e armas presenteadas na semana passada. O TCU determinou que ele não ficasse com os itens.
Presentes entraram ilegalmente no país. Um outro conjunto de joias, que seria um presente para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, foi avaliado em R$ 16,5 milhões e retido pela Receita Federal.
A defesa de Bolsonaro disse hoje que todos os presentes recebidos por ele foram “devidamente registrados”.
Bolsonaro é formalmente investigado no inquérito do STF (Supremo Tribunal Federal) que apura os responsáveis pelos eventos do dia 8 de janeiro, quando foi destruída parte dos prédios da praça dos Três Poderes.
O ex-presidente postou um vídeo questionando as eleições dias depois dos ataques, mas apagou o material. Por isso, foi incluído no inquérito.
A investigação deve responder se Bolsonaro incitou a realização dos ataques.
Aliado e ex-ministro da Justiça da gestão Bolsonaro, Anderson Torres está preso sob a acusação de omissão. À época, ele era secretário de Segurança do DF.
Na casa de Torres, a Polícia Federal encontrou uma minuta do que traçava uma tentativa de golpe, estabelecendo um estado de defesa no TSE para mudar o resultado das eleições.
Para além dos inquéritos criminais, Bolsonaro está na mira do TSE em uma ação que pode torná-lo inelegível.
Ação apura se Bolsonaro cometeu abuso de poder em reunião com embaixadores em julho de 2022.
Ele é acusado de se utilizar do encontro, transmitido pela TV Brasil, para atacar a integridade do processo eleitoral e disseminar desinformação.
Na ocasião, o então presidente reciclou mentiras contra o processo eleitoral –o evento foi transmitido pelas redes do governo.
Autor da ação, o PDT acusa Bolsonaro de uso indevido dos meios de comunicação e abuso de poder político e pede a inelegibilidade do ex-presidente por oito anos.
O partido está buscando acelerar o processo para garantir a condenação de Bolsonaro ainda neste semestre.
O espaço de candidato do bolsonarismo também está em disputa. Se, por alguma razão, Bolsonaro não for o candidato novamente na próxima eleição, outros nomes do PL disputam seu espaço.
Michelle Bolsonaro, esposa e ex-primeira-dama, é um dos nomes cotados para assumir o posto. Ela estreou na política em grande evento assumindo a presidência do PL Mulher.
Ontem, em entrevista ao jornal O Globo, a senadora Damares Alves, ex-ministra da Família e Direitos Humanos na gestão Bolsonaro, afastou Michelle do posto e disse que ela não tem interesse: “Hoje o que ela quer fazer é ajudar a fortalecer a direita. (…) Cargo eletivo ela não fala, hoje não está no coração dela”, afirmou.
Damares ainda se colocou como alternativa da direita para 2026. “Tem eu. Não esqueçam de mim, sou boa”, disse.