Colar de joias fez rainha perder a cabeça

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Foto: Reprodução

Muito antes de Michelle Bolsonaro, uma personagem de notoriedade bem maior se deixou envolver em nebuloso caso de um colar de brilhantes.

Foi a rainha Maria Antonieta (1755-1793), mulher de Luís 16, rei da França, injustamente acusada no escândalo da compra de uma joia que hoje valeria US$ 27 milhões.

O caso eclodiu em 1784 e provocou tamanha desmoralização da monarquia que é inevitável associá-lo ao apressamento da Revolução Francesa, em 1789.

Uma revolução em que Maria Antonieta e o marido perderam o pescoço na guilhotina. O agitado processo levou à instituição da República e chacoalhou as cabeças coroadas de toda a Europa.

Mas vejamos o caso do colar. A “corretora” da compra da joia, sem nenhuma autorização da própria rainha, foi Madame de La Motte, nobre de poucos recursos e muita pilantragem na cabeça.

Ela soubera que uma das maiores eminências da igreja francesa na época, o cardeal De Rohan, procurava um meio de se aproximar da rainha. Sugeriu a ele que comprasse o colar, depois de convencê-lo de que a rainha cobiçava secretamente aquela joia.

O colar havia sido produzido nos ateliês, em Paris, dos joalheiros Paul Bassenge e Charles Auguste Böhmer.

Ambos estavam empenhados na confecção daquela peça desde que o monarca francês anterior, Luís 15, a encomendara para sua amante, Madame Du Barry. Foi uma produção lenta, com a escolha das pedras mais translúcidas e mais caras.

Eram 674 diamantes com 2.842 quilates, que os joalheiros financiaram por meio de empréstimos. Especialistas afirmavam na época que nunca o ser humano havia produzido uma joia tão rica e delicada.

Pois bem, um belo dia a polícia descobre que o colar, que não fora ainda pago, havia pura e simplesmente desaparecido. O cardeal De Rohan é preso sob os olhos da corte em Versalhes, e o rei assina decreto internando-o na prisão da Bastilha.

Esse foi um dos enganos de Luís 16. Ao lavar as mãos e ao dar publicidade ao caso, ele pretendia tirar a si próprio e a rainha da linha dos suspeitos.

No entanto, foi o contrário que aconteceu. Além dos muros de Versalhes, a rainha passou a ser apontada como a verdadeira protagonista de uma compra na qual o cardeal e a nobre empobrecida seriam apenas personagens de fachada.

Seguiram-se dois anos de instrução do processo no Judiciário, que na época se chamava Parlamento.

Não havia ainda uma mídia estruturada, que surgiria só no século 19. Mas a França estava mergulhada em panfletos e na emergência daquilo que o filósofo alemão Jürgen Habermas chamou de “espaço público”. As pessoas sentiam-se pela primeira vez credenciadas a dar palpites sobre assuntos que ultrapassavam o perímetro de suas famílias ou de suas paróquias.

Com isso, formar opinião contra a rainha virou uma espécie de esporte nacional. Maria Antonieta ainda não havia completado 30 anos quando eclodiu o escândalo.

Mas emergia como “culpada”, sendo ainda acusada de sacrificar o cardeal para camuflar sua verdadeira responsabilidade.

Antes de se casar com o herdeiro dos Bourbon, a rainha fora uma princesa austríaca da família dos Habsbugo —a mesma na qual nasceu a mãe de d. Pedro 2º, do Brasil. Nunca foi popular entre os franceses, tendo mesmo passado para a história por uma frase que jamais pronunciou. “Se não têm pão, que comam brioches”, ela teria cinicamente aconselhado ao povo famélico que cercou Versalhes durante a Revolução.

Ao fim do processo judicial sobre o colar, o cardeal foi inocentado por pressões da igreja, e Madame de La Mottte, condenada a chicoteadas.

Quanto à monarquia, ela dava um novo passo na direção de sua queda.

Folha