Defesa de Bolsonaro cria estratégia suicida
Foto: Isac Nóbrega/PR
Jair Bolsonaro e seus aliados acertaram uma linha de defesa no caso das joias dadas pelo governo da Arábia Saudita ao ex-presidente e à ex-primeira-dama Michelle. A versão mais difundida na roda bolsonarista até o momento é a de que pacotes com presentes avaliados em dezenas de milhões de Reais foram entregues sem qualquer cerimônia por autoridades sauditas a auxiliares do então presidente. Uma das caixas foi retida na alfândega por puro acaso. E, no fim do dia, ninguém tinha ideia do que estava no pacote.
A tese é que nada passou de uma confusão provocada por um singelo um gesto diplomático. Um presente cujo valor extrapola qualquer limite da razoabilidade e que, por fruto de puro acaso, teria terminado na mochila de um assessor. Isso tudo aconteceu porque ninguém sabia de nada. O ex-ministro Bento Albuquerque, seu assessor Marcos Soeiro, Jair Bolsonaro, Michelle e ajudantes de ordem.
É um prato cheio para os agentes da Polícia Federal que serão responsáveis por colher os depoimentos de Albuquerque e Soeiro, nesta terça-feira. E, quem sabe, mais adiante também o de Bolsonaro, que afirmou estar disposto a prestar esclarecimentos às autoridades brasileiras. Pergunta sem resposta clara é o que não falta. Houve mais presentes além daqueles de que se tem conhecimento até agora? Há outros presentes em posse de Bolsonaro e sua família? Por que a Arábia Saudita daria um presente de dezenas de milhões de reais a um chefe de Estado sem que ele sequer estivesse presente? Se ninguém sabia o que estava no pacote, como houve um pressuposto de que a destinatária seria a primeira-dama? Se a comitiva conhecia os trâmites legais para presentes diplomáticos – afinal outros itens foram declarados corretamente no passado –, porque não os seguiu nesse caso? Por que os procedimentos não foram cumpridos nem mesmo após a apreensão? Se o plano era declarar os itens como patrimônio do Estado, por que isso não foi feito por meio de ofício à Receita para que as joias fossem liberadas? Ou, se o plano era incorporá-las ao acervo pessoal -, por que não foram tomadas providências para o recolhimento de impostos? São só alguns exemplos.
E já fica bem difícil amarrar uma história convicente com as informações que se tem até o momento. Ainda assim, segundo relatos veiculados até agora na imprensa, Bento Albuquerque não parece disposto a trazer muitos fatos novos ao depoimento. Se vier alguma grande revelação, provavelmente não terá sido planejada.
O que se ouve é que ele insistirá na versão de que ele e sua comitiva não sabiam do conteúdo da caixa apreendida no aeroporto. E que não teriam tentado interferir na ação dos agentes da Receita responsáveis pela apreensão. Afinal, ninguém sabia de nada.