Em vez de explicar joias, Bolsonaro ataca Lula

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Foto: Partido Liberal/Divulgação

De volta ao Brasil, após uma temporada de três meses nos Estados Unidos, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) assumiu nesta quinta-feira, 30, o discurso de líder da oposição, embora tenha contado com uma recepção aquém das expectativas no aeroporto de Brasília. Pouco tempo após desembarcar, Bolsonaro criticou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao afirmar que os petistas “não vão fazer o que bem querem com o destino da nossa Nação” e, apesar de dizer que seu papel não será o de comandar o contraponto ao governo do PT, permaneceu no palanque político.

Em todas as manifestações, Bolsonaro puxou Lula para o confronto e chegou a prever que o adversário “está por pouco tempo no poder”. O ex-presidente deixou o País em 30 de dezembro do ano passado, sem passar a faixa para o sucessor e, desde então, teve o nome associado aos atos golpistas de 8 de janeiro e ao escândalo da entrada ilegal de joias no Brasil, recebidas da Arábia Saudita, como mostrou o Estadão.

Ao longo do dia, Bolsonaro citou o caso em conversas com correligionários e em entrevistas. Disse que recebeu joias da Arábia Saudita “porque eles são riquíssimos”. “A rainha da Inglaterra ganhou R$ 50 milhões. Eles (reino da Arábia Saudita) têm dinheiro, pô! É o prazer deles dar o presente. Esse sheik me convidou, eu fui na casa dele, fiquei na casa dele. Ele tem coisas que nós não temos: três esposas, por exemplo. Eles são muito bem sucedidos. São riquíssimos, e eles procuram agradar às pessoas. Mas sou um cara que continuo com o meu reloginho aqui, graças a Deus”, afirmou ele, em entrevista à Jovem Pan. A Polícia Federal intimou o ex-presidente a depor no inquérito que investiga a entrada ilegal de joias no País, na próxima quarta-feira.

Ao se reunir ontem com deputados e senadores do PL, na sede do partido, Bolsonaro elogiou o perfil mais conservador do Congresso e sustentou que a atual legislatura é melhor do que a anterior. Na prática, tenta reaglutinar seu campo político – que se dividiu após sua ida para Orlando (EUA) – e aposta na desconstrução de Lula.

“Eu lembro lá atrás, quando alguém criticava o Parlamento, Ulysses Guimarães dizia: ‘Espera o próximo’. Desta vez, o próximo melhorou, e muito. O Parlamento nos orgulhando pelas medidas, pela forma de se comportar, agir lá dentro, fazendo o que tem que ser feito e mostrando para esse pessoal – que por ora, pouco tempo, está no poder – (que) eles não vão fazer o que bem querem com o destino da nossa Nação”, declarou.

Diante dos rumores de que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro poderá ser candidata em 2026, Bolsonaro disse, ainda, que ela não tem “vivência política” para disputar um cargo no Executivo.

Horas depois das críticas do ex-presidente ao governo, Lula fez a primeira aparição pública desde que foi diagnosticado com pneumonia, há uma semana. No Palácio da Alvorada, ao lado da primeira-dama Rosângela Silva, a Janja, e da ministra do Esporte, Ana Moser, o presidente assinou decreto que cria a estratégia nacional do futebol feminino. Foi um ato calculado para acenar às mulheres – faixa do eleitorado que mais rejeitou Bolsonaro.

“Não existe outro caminho para a humanidade senão a gente ser tratado como igual e não fazendo a discriminação que é feita junto às mulheres em várias atividades”, disse o presidente.

A chegada de Bolsonaro também foi ofuscada pela apresentação do novo arcabouço fiscal, medida considerada crucial por setores econômicos para o ajuste das contas públicas. Foi diante desse cenário de polarização que Lula escalou o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, para ironizar os poucos apoiadores à espera de Bolsonaro.

A cúpula do PL estimava que cerca de 10 mil pessoas compareceriam ao aeroporto de Brasília, mas havia aproximadamente 600. “Mais uma vez ele (Bolsonaro) se demonstrou um líder de pé de barro, quando fugiu do País. Agora, fez uma semana inteira de mobilização e (mesmo assim) flopou a recepção no aeroporto”, disse Padilha, repetindo cinco vezes a gíria “flopar”. O termo escolhido pelo ministro não foi à toa: a linguagem é usada nas redes sociais para se referir a eventos frustrantes ou que não atingiram as expectativas.

Na tentativa de se aproximar de eleitores de Bolsonaro que se sentiram abandonados após sua saída do País, o governo monta agora uma estratégia para as mídias digitais, recorrendo a palavras voltadas para o público jovem.

Estadão