Ibaneis inventa “apagão geral” sobre 8 de janeiro

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Foto: Cristiano Mariz / Agência O Globo

Um “apagão geral”. Assim o governador do Distrito Federal descreveu a inação da polícia diante dos atos golpistas de 8 de janeiro. Ao reassumir o cargo, Ibaneis Rocha tratou a depredação dos palácios como uma mera fatalidade. “Foi uma coisa imprevisível”, disse.

Na decisão em que autorizou a volta do governador, o ministro Alexandre de Moraes ressaltou que ele continua sob investigação. Ibaneis preferiu entender que já estaria absolvido. “Tenho consciência de que não devo nada à Justiça”, sentenciou.

O emedebista também tentou salvar a pele do ex-secretário Anderson Torres, preso há dois meses por ordem do Supremo. “Não foi culpa do Anderson”, garantiu.

Os atos golpistas podem ter sido tudo, menos imprevisíveis. As autoridades de Brasília sabiam da chegada de dezenas de ônibus com militantes de extrema direita. Eles reforçaram a tropa que já conspirava num acampamento ao lado do QG do Exército.

Na véspera dos ataques, a Polícia Federal avisou que os bolsonaristas preparavam “ações hostis e danos” às sedes dos Três Poderes. Acrescentou que o plano era “tomar o poder”, sob a desculpa delirante de “impedir a instalação do comunismo no Brasil”.

O alerta foi encaminhado a Ibaneis e ao comando da Polícia Militar. Mesmo assim, as forças de segurança cruzaram os braços diante da invasão dos palácios e da destruição de patrimônio público.

Antes da posse, o governador já havia sido advertido sobre os riscos de entregar a Secretaria de Segurança a Torres, homem de confiança de Jair Bolsonaro. Ele insistiu na nomeação do delegado, que viajou para os EUA horas antes do quebra-quebra.

Ibaneis transformou a volta ao Palácio dos Buritis num ato de campanha extemporânea. Descreveu o afastamento como um “martírio”, disse ter reencontrado o “sentido de viver” e escalou uma claque para aplaudi-lo.

A entrevista à imprensa local teve momentos de bajulação explícita. “Hoje o senhor é recebido na sua casa com o seu povo. Como é que está este coração?”, perguntou um repórter. “Se quiser fazer algum anúncio para a população, fique à vontade”, sugeriu outro.

À vontade, Ibaneis disse que Brasília é uma cidade de “pessoas boas” e prometeu novas obras nas cidades-satélites. Como se nada tivesse acontecido.

O Globo