Kalil quer que Lula enterre polarização

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Foto: Reprodução

Aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD) cobra do chefe do Planalto o resgate de um discurso de unificação do país. Kalil vê Tarcísio Freitas (PL), governador de São Paulo, e não Romeu Zema (Novo), que o derrotou na disputa em Minas Gerais no ano passado, como principal nome da direita para 2026. Na entrevista, o ex-prefeito também alfinetou o correligionário Rodrigo Pacheco, senador mineiro e presidente do Congresso de quem é rival internamente na legenda.

O resultado apertado entre Lula e Bolsonaro é sinal de continuidade da polarização?
Nós temos que abandonar a política de “nós contra eles”. Cabe ao presidente Lula resgatar o discurso da campanha de unificar o país, governar para todos, e que a Justiça tome conta dos malfeitos do passado. A ida à China com uma comitiva predominantemente da direita, do agronegócio, é um sinal. Isso é papel do governo, e não da oposição. Bolsonaro não agiu para unificar no governo, não é agora como oposição que vai fazer.

A declaração de Lula sobre uma suposta “armação” do senador Sergio Moro envolvendo uma operação da PF contribui para esse clima?
Achar que Lula tentou fazer palanque político é duvidar da sua inteligência. A declaração ocorreu como alguém que foi jogado dois anos na cadeia sem prova. Agora ele tem que falar como chefe de um país, mas, entre Moro e Bolsonaro, prefiro Bolsonaro, que é ao menos uma figura importante, um ex-presidente. Moro se projetou politicamente com uma operação desmoralizada e desmascarada.

O senhor foi derrotado pelo governador de Minas, Romeu Zema, que se alinhou a Bolsonaro no segundo turno. Considera Zema um herdeiro do bolsonarismo para 2026?

Zema é aliado da conveniência. Daqui a três anos, se lhe interessar, vai tentar abraçar o Lula como se fosse melhor amigo. Nesse campo da direita, uma candidatura natural à Presidência é a do governador Tarcísio (Freitas), de São Paulo.

Tarcísio tem como braço-direito o presidente do PSD, Gilberto Kassab. Esse movimento nacional poderia ocorrer pelo partido?
Tranquilamente. O Kassab é craque em trazer bons nomes para o partido, e o Tarcísio é seria muito bem-vindo. Essa é minha opinião, não tenho autoridade para falar pelo PSD. Tarcísio é um perfil de direita que pode incomodar a esquerda daqui a quatro anos. Sabe fazer as coisas e dialogar, como já mostrou em pouco tempo com Lula. Isso é unir o país. Não estou fazendo campanha para ele, provavelmente estarei do outro lado. Ou não, também não sei.

O PSD seguirá com Lula?
Creio que sim, porque o partido tem ministérios e costuma cumprir o que promete. Mas o PSD, por exemplo, é bolsonarista no Paraná e em Minas, onde fui uma voz solitária de apoio ao Lula. Já na Bahia, o partido é próximo ao Lula.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que é outra liderança do PSD em Minas, não é aliado de Lula?
O PSD em Minas não tem liderança, e disse isso ao Kassab. A última vitória majoritária do partido aqui, depois de Juscelino Kubitschek (eleito governador em 1950, em outra versão da sigla), foi a minha à prefeitura de Belo Horizonte em 2020. Pacheco entrou no partido já senador, e tomara que esteja alinhado com Lula, que precisa de paz para governar.

Pacheco adotou uma postura mais alinhada ao governo no impasse das medidas provisórias, contra o presidente da Câmara, Arthur Lira.
Não se trata de alinhamento, e sim de cumprir a Constituição. Estamos vendo uma coisa nova, que é um presidente da República eleito com minoria no Congresso. Se tem alguém querendo catimbar, que se dê nomes. A hora de fazer é no início do governo. Tem que avisar à população quem está avacalhando porque quer cargo.

O senhor apoiará seu sucessor e antigo vice, Fuad Noman (PSD), à reeleição na prefeitura de Belo Horizonte em 2024?
Já conversei isso com o Kassab, a posição em Belo Horizonte é minha. Meu compromisso não é com presidente da República, governador. É com a minha consciência. Tive 3,8 milhões de votos em Minas e fizemos muitas entregas em Belo Horizonte. É claro que não vou jogar esse patrimônio político no lixo. Fuad é um cara queridíssimo. Se for candidato e tiver interesse no meu apoio, ele tem que me procurar, o que ainda não ocorreu. Ele foi meu secretário da Fazenda e vice, tem que defender o legado dele.

O Globo