Moro e Dallagnol temem prisão de doleiro aliado

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Foto: Reprodução

A queda de braço travada em torno da prisão do ex-doleiro Alberto Youssef entre o juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, Eduardo Appio, e o desembargador do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) Marcelo Malucelli, jogou o berço da operação Lava-Jato em uma nova confusão. Recentemente, a “Lava-Jato 2.0” — como vem sendo chamada por Appio — acumulou uma série de embates.

À frente da cadeira que já foi do ex-juiz Sergio Moro desde fevereiro, Appio é abertamente crítico dos métodos da Operação Lava-Jato durante a condução do antecessor que virou senador. Essa postura, e algumas polêmicas em que o magistrado se envolveu, fizeram ele se tornar alvo de ex-integrantes da força-tarefa de Curitiba e simpatizantes de Moro. Além disso, ele vem sofrendo reveses em algumas em suas medidas.

Na última terça, Appio e o TRF-4 protagonizaram uma guerra de decisões. No início da tarde o desembargador Malucelli mandou soltar Youssef que havia sido preso preventivamente. Menos de uma hora depois da decisão, o juiz de Curitiba expediu novo mandato de prisão. Porém, instantes depois, a decisão foi novamente revertida e o magistrado da 2ª Instância determinou a soltura imediata de Youssef. O doleiro acabou deixando a carceragem da superintendência da PF na noite do mesmo dia.

Essa não é a primeira decisão de Appio que é revertida pelo desembargador Malucelli. Na semana passada, o TRF4 suspendeu sua medida pedindo que o ex-deputado Eduardo Cunha entregasse à Justiça seis carros bloqueados no âmbito da Operação Lava-Jato.

A frota do ex-presidente da Câmara, avaliada em cerca de R$ 500 mil, inclui dois Porsche Cayenne, um Ford Fusion, um Ford Edge, um Hyundai Tucson e um Passat Variant Turbo. Os automóveis, registrados em nome da empresa ‘Jesus.com’ e parte deles de luxo, deveriam ser entregues em até cinco dias úteis caso não houvesse a revisão.

Próximo do ex-juiz Sergio Moro, o desembargador Malucelli apareceu nos diálogos revelados pela “Vaza Jato” — um vazamento de conversas que ocorreram no Telegram —, em 2020. Nas conversas ele é apontado como um dos articuladores junto ao ex-procurador da Lava-Jato e agora deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR), no plano de emplacar um juiz aliado na Vara de Curitiba, após a saída de Moro para ser ministro da Justiça no governo de Jair Bolsonaro. Na época, ele era diretor do foro da Seção Judiciária do Paraná, órgão que administra o tribunal. Malucelli foi nomeado desembargador do TRF-4 por Bolsonaro em novembro do ano passado.

Eduardo Appio teve seu nome divulgado na lista de doadores da campanha presidencial de Lula. O juiz, no entanto, nega. Segundo dados do site do TSE, ele teria repassado R$ 13. Dallagnol e outros sete parlamentares, como Kim Kataguiri (União-SP) e Marcel van Hattem (Novo-RS), acionaram o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para pedir seu afastamento.

Eles acusam o juiz de não ser imparcial e questionan sua “isenção” e “neutralidade” para conduzir os processos. Uma procuradora da República do Paraná, Carolina Bonfadini de Sá, também pediu que o juiz se declare suspeito.

Eduardo Appio usava uma identificação eletrônica alusiva à campanha de Lula no sistema processual da Justiça, o “e-proc”, segundo revelou a coluna de Malu Gaspar no GLOBO. Nele, Appio assinava como “LUL22” até assumir o comando da Lava-Jato. No ambiente virtual, os magistrados devem adotar sigla como assinatura, quase sempre com três letras e dois números. É de praxe alterá-la de tempos em tempos, mas o sistema permite verificar o acervo de combinações adotadas por cada um.

O Globo