Na China, Lula tentará ampliar pauta de exportações

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Foto: Janete Longo/AE

A viagem diplomática do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China é uma oportunidade para o Brasil diversificar os negócios com o país asiático, hoje muito concentrados no agronegócio, disse ao Estadão o ex-embaixador Rubens Barbosa. Segundo o diplomata, a comitiva de empresários que acompanhará o chefe do Executivo deve buscar inserção em outros mercados estratégicos, como o de tecnologia, para além da exportação de commodities. “A China tem 1,4 bilhão de habitantes, e com essa quantidade de pessoas sempre vai haver nichos de mercado que as empresas brasileiras podem explorar lá”, afirmou.

Como mostrou o Estadão, cerca de 200 empresários, de 140 setores da economia, acompanharão o presidente na viagem. Houve inclusive disputa de vagas na comitiva. Maior parceiro comercial do País, a China representa também um ativo importante na geopolítica mundial. O diplomata afirma que a viagem mostra que Lula quer cumprir o que prometeu em seu discurso de posse, quando disse que fortaleceria a presença do Brasil no cenário internacional.

No campo do meio ambiente, considerado crucial, Barbosa afirma que o Brasil pode buscar o apoio da China para que Belém (PA) seja a sede da COP-30, em 2025. O petista lançou a cidade como candidata para a conferência climática no primeiro mês de seu mandato. Outra oportunidade é pedir ao governo chinês recursos para o Fundo Amazônia.

Leia os principais trechos da entrevista:

A comitiva será acompanhada por 200 empresários. Por que o enorme interesse na China?
Porque a China é o principal parceiro do Brasil, comercialmente. Esses empresários, a grande parte deve ser do agronegócio, e uma parte da Indústria, que quer abrir novas oportunidades de investimento, de exportação ou de importação de tecnologia chinesa.

Há expectativa de abertura do mercado chinês para outros produtos além do agro e principalmente da carne?
Esse deve ser um dos objetivos. A nossa exportação está sendo muito concentrada no mercado chinês, 31% das exportações de produtos agrícolas brasileiros vão para a China. Você tem poucos produtos, o minério de ferro, o agronegócio… Precisa diversificar. É uma oportunidade de contatos lá. Deve haver um encontro empresarial, por isso está havendo tanto interesse da parte dos empresários daqui. Aí é feito um networking para abrir possibilidades de negócio.

Então, é estratégico para o Brasil diversificar, abrir mais o leque para a China?
Acho que é muito importante essa diversificação, sobretudo encontrar nichos de mercado na China, porque a China tem 1 bilhão e 400 milhões de habitantes, e eles são grandes produtores, mas com essa quantidade de pessoas sempre vai haver nichos de mercado que as empresas brasileiras podem explorar lá.

E no sentido de importação?
Sobretudo na parte de tecnologia e inovação, você pode encontrar uma série de produtos e processos que poderão ser de interesse. Essa é uma das áreas que podem ser exploradas.

Qual a posição geopolítica que a China ocupa hoje?
A China, nesses últimos dias, até, incrementou o seu ativismo no cenário internacional. Domingo passado foi a posse do Xi Jinping como presidente, e o discurso dele foi muito proativo para a China ter uma participação mais importante no cenário internacional. Isso muda a percepção, porque você tem essa disputa entre a China e os Estados Unidos pela hegemonia geopolítica e econômica do mundo, e eu acho que essa visão nova deles é muito importante. Eles fizeram um acordo entre Irã e Arábia Saudita, que eram adversários, e a China intermediou para eles restabelecerem uma relação diplomática. Então, a China está tendo um papel muito importante hoje na ordem internacional.

Que sinal Lula dá ao viajar à China pouco depois de voltar dos EUA?
O Lula, quando tomou posse, disse que a política externa ia ter um papel importante na gestão dele e que o Brasil estava de volta ao cenário internacional. Com três meses de governo, ele está fazendo isso. Ele foi para os países do Mercosul, depois para os Estados Unidos, que é um outro grande parceiro do Brasil. O País, agora, está continuando essa diplomacia presidencial com a visita à China. Visitou primeiro os Estados Unidos, que está no nosso hemisfério, é o segundo maior parceiro brasileiro. O Brasil tem muitas afinidades com os Estados Unidos, que é um país ocidental, com valores e princípios idênticos; mas hoje nós temos grande vinculação comercial e econômica com a China. Então, agora, a terceira etapa da visita ao exterior é o maior parceiro do Brasil, acho que faz sentido para essa estratégia da volta da diplomacia presidencial.

Quando tomou posse, Lula disse que a política externa ia ter um papel importante em sua gestão. Com três meses de governo, ele está fazendo isso.

Que tipo de acordo pode ser firmado na área ambiental?
A China está começando a se voltar para essa questão do meio ambiente. A China é a maior emissora de gás carbônico e está com o compromisso de reduzir a zero essa emissão. O meio ambiente vai ser um dos temas importantes da visita. Há outros, mas o meio ambiente, do ponto de vista do governo, será um dos itens mais importantes. Há uma possibilidade de o Brasil tentar obter apoio financeiro da China para o Fundo Amazônia. Eu acho que eles deveriam fazer também algum documento que formalizasse essa cooperação na área ambiental, inclusive com apoio da China à realização da COP-30 aqui no Brasil. Além disso, Brasil e China têm um acordo de cooperação na área espacial, e eles estão discutindo a possibilidade de lançamento de um satélite brasileiro com foguete, com veículo lançador da China, para monitorar a Amazônia.

Eu acho que eles deveriam fazer também algum documento que formalizasse essa cooperação na área ambiental, inclusive com apoio da China à realização da COP-30 aqui no Brasil.

E no setor de Infraestrutura?
Há muitos projetos aqui. A China já está investindo aqui na área energética, que é uma área de Infraestrutura. E pode ter outras áreas, pode ter empresas chinesas que queiram investir em projetos de infraestrutura física, como estradas e rodovias. Também, apoio da China no banco de desenvolvimento dos BRICs para apoiar projetos de Infraestrutura no Brasil.

Como fica a relação com a China após o governo Bolsonaro? O sr. vê uma deterioração dessa relação?
Isso já está totalmente superado, o governo Bolsonaro acabou. Já no segundo ministério, com o Carlos França (após a saída de Ernesto Araújo), o governo brasileiro já tinha modificado a sua atitude em relação à China, e hoje não há nenhuma restrição. O Lula estar indo lá é a prova. Não há nenhum problema diplomático ou político para a ampliação das relações bilaterais. Não há nenhuma dificuldade.

Estadão