Parte dos militares resistiu ao golpismo de Bolsonaro
Foto: Ricardo Stuckert
Ao longo de todo o governo de Jair Bolsonaro, não foram poucas as vezes em que o Radar retratou o desconforto da cúpula do Exército com o assédio do presidente sobre a instituição.
Bolsonaro usou cargos e verbas para tentar cooptar militares e, em certo ponto, conseguiu se apropriar da imagem da caserna para ameaçar o STF e o TSE. Sua aventura autoritária, no entanto, nunca capturou a instituição.
Poder silencioso, o Exército seguiu calado diante dos ataques e acusações que recebeu, inclusive da imprensa, sobre participar institucionalmente da marcha golpista de Bolsonaro. A conduta pessoal de alguns militares, é verdade, expôs a corporação, mas Bolsonaro nunca conseguiu dobrar o Alto Comando.
No governo passado, como nos outros governos que vieram antes de Bolsonaro, o Exército conviveu com duas alas: a política, que interagia com o presidente de turno, e a não política, que se dedicava exclusivamente aos deveres institucionais da farda.
Em diferentes momentos, essas duas alas tiveram atritos, dado que o assédio presidencial sobre a tropa tinha sempre como resultado o impacto na popularidade da instituição, algo caro para a ala não política.
Na lógica militar, bolsonaristas e não bolsonaristas na caserna são, antes de tudo, integrantes da “família militar”. Como em toda casa, houve momento em que os militares que defendiam a blindagem institucional do Exército toleraram os avanços de sinal de militares que se meteram na política.
Isso teve um preço para a instituição, mas, de novo, o Alto Comando seguiu o caminho da Constituição e o presidente a despachar no Planalto hoje é Lula, contra todos os atos de Bolsonaro para dividir a tropa nos quarteis.
As falas do atual comandante do Exército, general Tomás Paiva, gravadas numa reunião reservada do Comando Militar do Sudeste, comprovam essa rotina de assédio e confirmam, ainda que de forma indireta, uma versão importante da história do bolsonarismo no poder.
Lula não era o nome desejado pelos militares? Não era. Mas está aí. Bolsonaro usurpou seus poderes e tentou interferir no Exército? Tentou, mas foi barrado pelo Alto Comando. Os militares reviraram o sistema das urnas eletrônicas em busca de fraudes e não encontraram. Atestaram, portanto, a segurança das eleições.
O respeito ao texto constitucional e a legalidade devem guiar o militar, como bem lembrar o general num texto divulgado nesta terça: “Os quadros da Força devem pautar suas ações pela legalidade e legitimidade, mantendo-se coesos e conscientes das servidões da profissão militar, cujas particularidades tornam os direitos e os deveres do cidadão fardado diferentes dos demais segmentos da sociedade. Os integrantes da Força, homens e mulheres, alicerçados no caráter de nossa gente e unidos pelo amor à pátria, trabalharão para que o Exército Brasileiro continue a cumprir suas missões previstas na Carta Magna, alinhado aos anseios da sociedade e aos valores e tradições nacionais”.