PCC já assassinou juiz em São Paulo

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Foto: Acervo Estadão

A operação da Polícia Federal que desmantelou na quarta-feira, 22, um plano do Primeiro Comando da Capital (PCC) para matar o senador Sérgio Moro (União Brasil-PR) ocorreu uma semana após completar 20 anos do primeiro crime de grande repercussão da facção, quando criminosos assassinaram um juiz no interior de São Paulo.

O juiz-corregedor Antônio José Machado Dias, de Presidente Prudente, voltava para casa no dia 14 de março de 2003 quando teve o seu carro cercado por criminosos e foi baleado. Tido como extremamente rigoroso e principal inimigo das lideranças do PCC detidas em presídios do oeste paulista, o magistrado foi assassinado a apenas três quadras do fórum onde atuava.

“Machadinho”, como era conhecido, tinha 47 anos e foi atingido no tórax e na cabeça por tiros de pistola 9mm durante a emboscada. Ele era responsável por cuidar dos processos de execução penal do chefes da facção criminosa, e, na época do atentado, o traficante Fernandinho Beira-Mar estava detido no presídio de segurança máxima de Presidente Bernardes, também área de atuação do juiz.

O assassinato teve grande repercussão na época e provocou mudanças na Justiça em São Paulo, como a migração de processos de detentos das penitenciárias de Presidente Bernardes, Presidente Venceslau, Taubaté e Avaré para a 5.ª Vara de Execuções Criminais da capital, com o objetivo de evitar que juízes do interior ficassem expostos a ações criminosas. Os principais fóruns do Estado de São Paulo passaram a receber detectores de metais e os magistrados receberam cartilha com instruções de segurança pessoal.

O PCC é conhecido por um histórico de horror e chegou a paralisar a região metropolitana de São Paulo em 2006, no ataque mais abrangente e lembrado do grupo até hoje. O grupo atua principalmente dentro dos presídios paulistas, de onde os líderes da facção passam comandos para os que estão soltos. É por isso, inclusive, que o grupo recebeu tão mal a transferência de Marcola, seu principal líder, de um presídio paulista para um federal, em 2019, a pedido do promotor Lincol Gakiya e com coordenação de Sergio Moro, então ministro da Justiça e Segurança Pública.

Os policiais militares e outros membros das forças de segurança são os principais alvos do PCC, mas o grupo também já vitimou civis. A facção aponta como uma das motivações de sua formação o Massacre do Carandiru, ocorrido em 1992, quando policiais mataram 111 presos na Casa de Detenção de São Paulo após uma rebelião.

Relembre outros ataques do PCC:

Fevereiro de 2001
No dia 18 de fevereiro de 2001, o PCC promoveu rebeliões em 29 presídios como represália pela transferência dos principais chefes do grupo da Casa de Detenção, o Carandiru.

Agentes penitenciários e familiares de detentos, incluindo homens, mulheres e crianças, foram feitos reféns. Era um domingo, dia de visita em todos os presídios do Estado. O episódio foi a manchete do Estadão na época.

Março de 2003
A facção “inaugurou” o terror em torno do nome “PCC” quando assassinou o juiz Antonio José Machado Dias, de Presidente Prudente. O magistrado foi morto numa emboscada no dia 14 de março, quando voltava do fórum para casa. Seu carro foi fechado por outros dois veículos e ele foi baleado.

O juiz era o responsável por conceder ou negar benefícios aos presos da região, entre eles líderes do PCC. Na época, as investigações apontaram que, além de Marcola, a ordem para matar o juiz passou por uma cadeia de comando do PCC até sair das prisões e ir para as ruas.

Maio de 2006
Em 11 de maio de 2006, o governo de São Paulo enviou Marcola do presídio de Avaré para Presidente Venceslau, e outros 700 criminosos ligados à facção também foram transferidos de unidade. O governo anunciou, ainda, ter descoberto um plano do grupo, que realizaria uma onda de rebeliões no final de semana seguinte, durante o Dia das Mães.

Dois dias depois, 30 pessoas morreram e 25 ficaram feridas em uma sequência de 64 atentados, cometidos entre a noite do dia 12 e a tarde do dia 13, contra policiais, guarda civis e agentes prisionais. Delegacias e bases da polícia também foram alvos de tiros.

Os ataques se concentraram na Grande São Paulo, mas também houve registros no interior e no litoral. Simultaneamente, o Estado teve de enfrentar uma megarrebelião em presídios. Estima-se que 24.472 detentos de 24 unidades integraram o movimento, tendo feito 129 reféns.

Os ataques paralisaram a capital e a região metropolitana de São Paulo. Ônibus foram incendiados e o serviço de transporte público foi afetado. Comerciantes fecharam as lojas mais cedo e as escolas e faculdades liberaram os alunos.

2012
Em 2012, o PCC ordenou o assassinato de seis policiais militares no mês de julho, inaugurando uma onda de ataques a PMs que durou até o fim daquele ano. Diferentemente de 2006, quando a ação do grupo foi intensa e paralisou São Paulo, em 2012 os ataques ocorreram de forma mais espaçada. De acordo com as investigações, o objetivo das ações era desestabilizar a tropa policial e a cúpula da segurança em São Paulo.

Estadão