Planos do PCC são herança de Temer e Bolsonaro
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A descoberta de um plano da principal facção criminosa do país para matar autoridades e a ação do grupo que domina os presídios no Rio Grande do Norte, impondo uma semana de terror a várias cidades do estado, praticamente obrigam o Brasil a tratar de um tema esquecido.
O combate ao crime organizado não recebe dos governantes a atenção e os recursos que deveria. A própria sociedade civil só trata da questão em momentos de crise, como o atual. Passado o período de maior tensão, o assunto é deixado de lado e os criminosos voltam atuar em seus “negócios” ilegais com relativa tranquilidade.
É compreensível que, em um país com tantos problemas a resolver – em especial depois dos catastróficos quatro anos da gestão de Jair Bolsonaro -, os políticos, a população e a imprensa deem mais atenção a pautas das áreas social, ambiental, de saúde, de educação e direitos humanos. Mas talvez seja o momento de perceber que o gigantismo do crime organizado no Brasil agrava muitas de nossas principais mazelas.
O crescimento das quadrilhas por trás de garimpeiros ilegais e madeireiros na Amazônia; o domínio territorial do tráfico e da milícia nas grandes cidades, que transforma grandes extensões em áreas conflagradas; a ligação de políticos de várias esferas com o crime; o aumento dnúmero de homicídios e roubos – problemas desse tipo impactam a vida de muitos brasileiros.
Talvez o plano homicida do PCC e as ações terroristas do Sindicato do Crime tragam para o centro do debate a questão fundamental do combate ao crime organizado. Até aqui, de maneira geral, tanto governantes da esfera federal quanto da estadual têm tratado o problema como algo a ser resolvido apenas pelo aumento do contingente policial e da quantidade de armamentos.
Como se vê, essa estratégia simplista não tem dado certo. De outro lado, muitos debates confundem a luta contra a violência policial com a formulação de política de segurança pública. Defender os direitos humanos e punir os agentes do Estado que agem com violência é essencial. Mas é algo bem diferente de um plano para tirar poder dos grandes cartéis criminosos. O fato de ter à frente do Ministério da Justiça e Segurança Pública alguém tão atuante quanto Flávio Dino pode ser oportunidade para que a sociedade se dedique finalmente a descascar esse abacaxi.
Nas últimas décadas, muitos estudos foram feitos nas universidades sobre o tema – a academia talvez seja a exceção ao reconhecer a gravidade do problema – e podem servir de ponto de partida para um debate mais profundo. Por enquanto, esse debate não existe.
Quando estiverem presos ou identificados todos aqueles integrantes do PCC que planejavam matar autoridades e quando cessarem os ataques do Sindicato do Crime, no Rio Grande do Norte, ninguém deve achar que tudo está resolvido. Enquanto a sociedade brasileira se esquivar do assunto, o crime organizado terá espaço livre para trabalhar em silêncio e preparar os próximos ataques – sempre mais ousados que os anteriores.